quarta-feira, 12 de junho de 2013

Desterrados

Cada vez menos as pessoas têm terra. Não, não é no sentido da propriedade, ou talvez também seja, mas não no sentido de ser dono, antes na perspectiva de pertencer.
As gerações mais novas nascem nas cidades, onde vivem na maior parte das vezes, e a deslocação à terra faz-se quase sempre com um grito da mãe ou do pai. Não, não era isto que eu queria dizer, embora seja verdade.
Já não se nasce em casa, esqueçamos agora os novos movimentos a favor dos partos naturais em casa, com piscinas de bebés e essas coisas, nasce-se nos hospitais e os hospitais são cada vez menos, de modo que a concentração de nascimentos é maior. A minha prima mais velha nasceu na aldeia, em casa, eu no hospital na vila mais próxima, os nossos filhos em Lisboa e Almada, locais partilhados por milhares e milhares, cujos pais têm no cartão de cidadão os mais diversos locais de nascimento, como Sobral da Adiça, concelho de Moura, distrito de Beja, ou Ruivaqueira, concelho e distrito de Leiria.
O Sobral e Ruivaqueira perderam filhos literalmente e os bastardos já não atestam o carro ao fim de semana e não se põem a caminho da terra.
As raízes estão mais concentradas desta forma? São mais fortes? É como se fosse um olival cujas árvores estão plantadas todas no mesmo sítio? Nada disso, antes pelo contrário. O sentido de pertença diluiu-se no estar sempre na terra, que deixou de ser terra, pois terra é a que fica longe, a que está perto, é aqui e aqui não é A terra.
Para ser terra tem que ser longe, se bem que o próprio longe de hoje seja em Londres ou em Paris e não em Santo Aleixo da Restauração ou em Chainça. Desapareceu aquela força invisível que puxava as pessoas no Natal ou na Páscoa para as aldeias, mesmo que não tivessem família. Quando A terra é nas cidades, depois da meia noite de 24 de Dezembro vai-se para a discoteca, onde o galo da missa não se ouve por mais que se esgane. Não se leia aqui saudosismo para com a missa do galo pois, que me lembre, da única vez a que assisti, quando regressámos a casa encontrámo-la cheia de fumo, devido a um tronco ter rolado da lareira e estar impávido e sereno a arder no meio da sala!
Mas com o desaparecimento da pertença da terra ficamos mais pobres, menos característicos, mesmo que essas características passassem por ser coisas como, os de aqui são teimosos, os de além são maricas, os de acolá são corajosos, os de não sei de onde são assim e assado, como se a laje que a parteira pisava no momento em que vieram ao mundo lhes conferisse traços comuns.
Com um mundo tão globalizado o número de terras dos nossos conhecidos aumentou: um é de Sevilha, outro do Rio de Janeiro, outro da Praia. Se eu tivesse a Praia como terra, era um dois em um, e tenho a certeza que me sentiria uma sereia, não como a Ariel, mas antes como as do Ulisses.
Bom, mas eu tenho terra. E família, nessa terra. Família viva, os meus tios, e família morta, os meus avós, cujos restos mortais estão no local mais soalheiro do cemitério, contra a vontade da minha tia que cada vez que lá vai no Verão, discute com a minha avó sobre a escolha do sítio, tão à soalheira, tão à calorina, e repete que foi mal escolhido como se ainda pudessem mudar. Farto-me de rir com estas críticas e imagino a minha avó, gorda e redonda como a mais bela lua cheia a virar a cara de lado e a rir-se como quem não quer desdizer uma criança, e o meu avô a franzir as sobrancelhas e a abanar a cabeça, enquanto diz à filha, eu escolhi a minha, escolhe tu a tua.
Não sendo ateniense nem grega, sou do sítio onde estou, capacidades de adaptação não me faltam, e dos sítios de onde trouxe memórias e a aldeia dos meus avós deu-me muitas, muitíssimas.
Acredito pois que as raízes crescem em torno das pessoas, com terra ou sem ela, no mar ou no céu e onde houver boa-vontade. É pena que esta boa-vontade seja cada vez interiorizada, obrigação dos outros para connosco, e não espontânea e pura, nossa para com o mundo. Afinal, vivemos todos na Terra.

3 comentários:

  1. Olá fofinha! Exactamente! Fofinha! Nada mais exactamente do que fofinha para te descrever de forma exactamente! Fofa. Exactamente fofa! Aliás deverias chamar-te Maria Fofa. Maria porque todas as mulheres deveriam ser Marias e Fofa de apelido. A família Fofa! Exactamente!
    E como eu adoro que não me ligues patavina! Oh Deuses que esta mulher põe-me doido...exactamente. Doido!

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  2. Olá fofinha! Exactamente! Fofinha! Nada mais exactamente do que fofinha para te descrever de forma exactamente! Fofa. Exactamente fofa! Aliás deverias chamar-te Maria Fofa. Maria porque todas as mulheres deveriam ser Marias e Fofa de apelido. A família Fofa! Exactamente!
    E como eu adoro que não me ligues patavina! Oh Deuses que esta mulher põe-me doido...exactamente. Doido!

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  3. Olá fofinha! Exactamente! Fofinha! Nada mais exactamente do que fofinha para te descrever de forma exactamente! Fofa. Exactamente fofa! Aliás deverias chamar-te Maria Fofa. Maria porque todas as mulheres deveriam ser Marias e Fofa de apelido. A família Fofa! Exactamente!
    E como eu adoro que não me ligues patavina! Oh Deuses que esta mulher põe-me doido...exactamente. Doido!

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