35 anos, ou à volta disso, era a idade dela. Seguia no Metro com uma amiga, a amiga à civil, ela com uma farda de uma empresa de segurança e foi precisamente a farda que me fez observar: as empresas de segurança contratam pessoas tão pequeninas? Esta poderia viver em qualquer casa do Portugal dos Pequenitos e sobrava pé direito.
A altura, que lhe deixava os pés a bandear enquanto seguia sentada, não se relacionava com a indignação: fora a uma entrevista de emprego e o entrevistador, pasmem-se os crédulos, não usava gravata! É verdade, gravata, viste-a!
A outra perguntava-lhe para que precisava ele da gravata durante a entrevista e ela retorquía que um homem sem gravata, um entrevistador, um chefe, ele devia ser o eventual chefe, não era nada! Agora, ali, em mangas de camisa - e virando-se ligeiramente para a outra lhe ver os olhos em chamas - mangas arregaçadas ainda por cima!, vê lá tu que raio de entrevistador era aquele! É que se ele não tivesse casaco ainda se compreendia, estava abafado naquela sala, tudo bem, mas sem gravata..., não, isso não se aceita.
A amiga repetia o argumento, simples, é verdade, e de uma total ineficácia, uma percepção que passava ao largo no mar de desprezo a que era votado o desgravatado, cuja legitimidade se anulava pela falta do adereço.
Onde é que já se viu isto? Quem não usa gravata são os trabalhadores, dizia ela esticando a sua própria gravata, numa prova material e visual de uma superioridade com a qual tentava conquistar a amiga, sem o conseguir, pois a outra ia-lhe chamando idiota e preconceituosa.
Ai eu é que sou idiota? Atão ele faz-nos as perguntas e isso tudo como se fosse um agricultor, só lhe faltava a gadanha nas mãos, e eu é que sou idiota? Atão, ele se calhar queria-te contratar para lhe tratares da horta!
Nem um sorriso, nem um sinal leve de concordância, a indignada virou-se para a bela paisagem negra dos túneis e continuou a resmungar, abanando os pés e alisando a gravata.
A altura, que lhe deixava os pés a bandear enquanto seguia sentada, não se relacionava com a indignação: fora a uma entrevista de emprego e o entrevistador, pasmem-se os crédulos, não usava gravata! É verdade, gravata, viste-a!
A outra perguntava-lhe para que precisava ele da gravata durante a entrevista e ela retorquía que um homem sem gravata, um entrevistador, um chefe, ele devia ser o eventual chefe, não era nada! Agora, ali, em mangas de camisa - e virando-se ligeiramente para a outra lhe ver os olhos em chamas - mangas arregaçadas ainda por cima!, vê lá tu que raio de entrevistador era aquele! É que se ele não tivesse casaco ainda se compreendia, estava abafado naquela sala, tudo bem, mas sem gravata..., não, isso não se aceita.
A amiga repetia o argumento, simples, é verdade, e de uma total ineficácia, uma percepção que passava ao largo no mar de desprezo a que era votado o desgravatado, cuja legitimidade se anulava pela falta do adereço.
Onde é que já se viu isto? Quem não usa gravata são os trabalhadores, dizia ela esticando a sua própria gravata, numa prova material e visual de uma superioridade com a qual tentava conquistar a amiga, sem o conseguir, pois a outra ia-lhe chamando idiota e preconceituosa.
Ai eu é que sou idiota? Atão ele faz-nos as perguntas e isso tudo como se fosse um agricultor, só lhe faltava a gadanha nas mãos, e eu é que sou idiota? Atão, ele se calhar queria-te contratar para lhe tratares da horta!
Nem um sorriso, nem um sinal leve de concordância, a indignada virou-se para a bela paisagem negra dos túneis e continuou a resmungar, abanando os pés e alisando a gravata.
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