segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Uma questão de sotaque

Não sendo Paris ou Nova Iorque, Lisboa tem uma polifonia assinalável de sotaques no metropolitano, nos quais reparo pois a simples audição é um passaporte para os mais diversos locais. Espanhóis, são sempre muchos, e a estação onde entro ainda regista mais pela proximidade com o Instituto Cervantes. Ingleses, a lots, principalmente em dias de jogos de futebol, maning de africanos, очень russos e ucranianos, todos com o talento de me encantarem, uma vez que qualquer língua estrangeira aos meus ouvidos é sinfonia de criar pele de galinha. Quem serão e o que andarão a fazer? Repararão em mim, quando a situação é inversa? Onde terão ido hoje? Gostaram? São muitas, mas sempre as mesmas, perguntas que me coloco no silêncio que me rodeia enquanto companheira ocasional de viagem dos estrangeiros.
À excepção dos grupos ligados ao futebol, que são sempre muitos, barulhentos e, quase sempre, de cerveja na mão, os estrangeiros não são alvo de muitos olhares por parte dos passageiros.
Na sexta-feira passada isso não aconteceu. A senhora devia ter os seus sessenta anos, falava ao telefone alto e bom som e só à terceira frase é que consegui identificar-lhe a origem: era portuguesa! Toda a gente seguia a conversa com atenção: a senhora informava quem quer que estivesse lá do outro lado que estava no metro, na estação X e iria sair na Y, que havia muita gente, mas não se tinha perdido e intercalava com algumas gargalhadas que, verdade verdadinha, também tinham sotaque de S. Miguel. Ainda esperei que algures pelo meio da prestação de informações ela falasse na cana de pesca, mas tal não aconteceu e os sorrisos dos atentos passageiros não se transformaram em descomunais gargalhadas. Na estação anunciada a senhora saiu carregando uns sacos e a carruagem voltou ao barulho normal que se tinha silenciado ligeiramente para dar destaque ao maravilhoso sotaque  açoriano.

2 comentários:

  1. «...a simples audição é um passaporte para os mais diversos locais...» Imagem perfeita :)

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  2. Os transportes públicos são realmente uma forja de grandes encontros, de grandes conversas e, como diz, em várias línguas,dialectos e sotaques.

    :)

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