segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Caminhos confusos, mas negros.

Por ocasião da minha estadia espanhola – em hotel, não em residência, embora com pena minha… – reflecti sobre a importância das rotinas e em quanto elas nos ajudam de facto a perceber as pessoas, os povos, o estar.
Se vamos de férias e nos pedem 5 euros por uma garrafita de água concluímos que cada garrafa custa 5 euros. Porém, há que comprá-la onde as pessoas a compram e não onde essa espécie daninha dos turistas se abastece. O acto de repetir uma acção – almoçar, jantar, fazer compras de mercearia, andar de transportes (sem o cartão de turista!) – duma forma sistemática dá-nos uma percepção que a falta de rotina nos tira.
Ouço com frequência as pessoas dizerem que na França é assim e na Holanda é assado porque um dia me aconteceu isto ou aquilo… ninguém concede que seja a excepção. A minha falta de preconceitos, obrigada a todos os deuses de todos os olimpos, faz-me pensar sempre duas vezes perante qualquer coisa. Por norma, quando penso só uma engano-me.
Sabendo do número de desempregados e da situação económica da Espanha, estranhei que as esplanadas estivessem sempre cheias – o sempre é de manhã, à tarde e à noite, em vários locais da cidade e em diferentes tipos de estabelecimentos durante uma semana… penso que é um indicador suficiente para esta estatística de bolso.
Conto-lhes que por estas bandas já não é bem assim e eu, a exemplo de muitas pessoas minhas conhecidas, trago almoço de casa. Não tenho oportunidade de lhes explicar – porque só aconteceu ontem – que em passeio ao Algarve, a rua principal de Portimão estava deserta, com lojas já fechadas, apesar do calor de Verão que se fazia sentir, o que só vem confirmar o que lhes contei.
A conversa da contenção vai parar aos assaltos que, segundo eles, não aumentaram nem diminuíram, ao contrário do que acontece em Portugal: a cada passo sabemos de novas situações, algumas delas ligadas a dramas sociais que nos fazem engolir em seco.
Uma das pessoas que foi comigo ontem ao Algarve trabalha em seguros há 34 anos e agora depara-se com uma situação pela primeira vez: as mercearias procuram as seguradoras na sequência de assaltos frequentes. O que levam? Arroz, massa, azeite, fruta, legumes, detergentes. Não levam álcool, por exemplo.
O que diz isto do momento que estamos a viver? O que diz isto a quem passeia na avenida ao sol e tem uma vaga ideia que por baixo há um metropolitano, mas não nos apercebemos da sua natureza labiríntica escura, triste e coexistente?
Das conversas que mantive com colegas espanhóis sobre desemprego depreendi que a grande maioria das pessoas continua a procurar emprego na sua área de trabalho – assim eram os exemplos que me foram dados. Aqui vejo pessoas – não todas! – a procurar qualquer coisa. Parecem-me ser duas fases distintas do processo, bem distintas, apesar do número gigantesco dos que não têm trabalho em Espanha.
Das várias pessoas que conheci algumas delas estavam chegadas de férias com origens na Madeira e Porto Santo, Samarcanda, Londres, Cambodja e Vietname. Nada mau, hem?
Guardo facturas de uma bicazita num café normalíssimo a 1,60€ e paguei todos os dias 3 euros por um café e uma torrada com manteiga ao pequeno-almoço, torrada que, convém que se diga, é uma fatia de bimbo, não duas.
Que dizer? Estou confusa.

Sem comentários:

Enviar um comentário