Não me lembro rigorosamente nada do Prado. A entrada seria outra? A envolvência teria mudado assim tanto? O Alzheimer é já tão grande? Nada disso. Não me lembro porque nunca lá fui, embora conheça e seja amante de algumas das peças.
A visita mais prolongada a Madrid foi há alguns anos com marido e filho, como atestam algumas fotografias; a memória mais sólida desta viagem é o olhar fixo do Duarte, com 7 ou 8 anos, diante de Guernica. Já eu tinha tirado todas as medidas ao quadro, virado e revirado a cabeça para apreender mais esta e aquela perspectiva e ainda ele estava absorto num primeiro contacto prolongado, o do choque. Olhos vidrados, movia-se para tirar as pessoas do seu ângulo de visão e continuava a olhar, como alguém que põe uma garrafa à boca e só descansa na última gota.
Com a minha queda para estações e terminais de transportes estivemos em Atocha, mas não no Prado, ali mesmo ao lado. Não me lembro porquê, mas algo me diz que o meu marido deve ter decidido que os bilhetes eram caros e que já tinhamos visto muita coisa e assim ficámos. Se houve a discussão do costume apaguei-a da memória.
Agora, finalmente, visito-o como quem visita um velho amigo com quem estamos em dívida.
Não percebo nada de pintura mas sei o que gosto, o que me impressiona, o que me faz suster a respiração, o que me choca, o que me arrepia, o que me provoca lágrimas, o que me prende durante uma hora seguida, o que me deixa indiferente e o que detesto.
Comecei pelo choque negro de Goya. Composições horríveis que, não obstante, sempre me fascinaram quando via as imagens. Os originais deixaram-me estarrecida.
Passei para a magnificente luminosidade de El Greco e concluí que só vendo-os nos apercebemos da sua profundidade e da dimensão poderosa, que nos faz ter vontade de ajoelhar perante aquele tudo que se mete cá dentro duma forma inexplicável: não há imagens dos quadros que revelem a luz interior de cada composição e cada quadro é uma janela para dentro dele mesmo, um astro com luz própria.
Dei comigo com lágrimas nos olhos diante dum Rembrandt, sem saber quem era o autor, mas presa no acetinado da pintura.
Deixei Diego para o fim. Por ser uma espécie de dono do Prado, o anfitrião de todos os outros, por ser absolutamente maravilhoso, fazer parecer tudo tão fácil, tão próximo.
Não gosto de museus mas sempre que visito um sinto-me mais rica. E neste dia fiquei de barriga cheia.
A visita mais prolongada a Madrid foi há alguns anos com marido e filho, como atestam algumas fotografias; a memória mais sólida desta viagem é o olhar fixo do Duarte, com 7 ou 8 anos, diante de Guernica. Já eu tinha tirado todas as medidas ao quadro, virado e revirado a cabeça para apreender mais esta e aquela perspectiva e ainda ele estava absorto num primeiro contacto prolongado, o do choque. Olhos vidrados, movia-se para tirar as pessoas do seu ângulo de visão e continuava a olhar, como alguém que põe uma garrafa à boca e só descansa na última gota.
Com a minha queda para estações e terminais de transportes estivemos em Atocha, mas não no Prado, ali mesmo ao lado. Não me lembro porquê, mas algo me diz que o meu marido deve ter decidido que os bilhetes eram caros e que já tinhamos visto muita coisa e assim ficámos. Se houve a discussão do costume apaguei-a da memória.
Agora, finalmente, visito-o como quem visita um velho amigo com quem estamos em dívida.
Não percebo nada de pintura mas sei o que gosto, o que me impressiona, o que me faz suster a respiração, o que me choca, o que me arrepia, o que me provoca lágrimas, o que me prende durante uma hora seguida, o que me deixa indiferente e o que detesto.
Comecei pelo choque negro de Goya. Composições horríveis que, não obstante, sempre me fascinaram quando via as imagens. Os originais deixaram-me estarrecida.
Passei para a magnificente luminosidade de El Greco e concluí que só vendo-os nos apercebemos da sua profundidade e da dimensão poderosa, que nos faz ter vontade de ajoelhar perante aquele tudo que se mete cá dentro duma forma inexplicável: não há imagens dos quadros que revelem a luz interior de cada composição e cada quadro é uma janela para dentro dele mesmo, um astro com luz própria.
Dei comigo com lágrimas nos olhos diante dum Rembrandt, sem saber quem era o autor, mas presa no acetinado da pintura.
Deixei Diego para o fim. Por ser uma espécie de dono do Prado, o anfitrião de todos os outros, por ser absolutamente maravilhoso, fazer parecer tudo tão fácil, tão próximo.
Não gosto de museus mas sempre que visito um sinto-me mais rica. E neste dia fiquei de barriga cheia.
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