segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Vida social

Apesar de tanta tecnologia que nos rodeia, de tanto telefone, de tanto correio electrónico – receptível até dentro de água! – as pessoas têm muita saudade umas das outras.
Neste pós-férias multiplicam-se as marcações para jantares de antigos alunos, combatentes, colegas, o que for; sucedem-se os telefonemas a combinar encontros, para comentar as fotos das férias já vistas e partilhadas no Facebook ou em qualquer outra rede social, descarregadas a cada passo durante a ausência.
A minha vida social é fraquita mas em Setembro atinge um pico que se repetirá no Natal, quando as saudades parecem voltar à carga, sem apelo nem agravo.
A coisa é de tal forma que fui convidada para três jantares no mesmo dia! Os convites vêm via Facebook e, reparando não ser a única naquela circunstância, liguei a uns amigos perguntando qual deles iam aceitar, por me ser grata a sua companhia e costumarmos ficar juntos. Fiquei banzada com a resposta: Vamos pelo menos a dois! Jantamos num, comemos a sobremesa noutro e se a malta for a qualquer sítio no terceiro encontro, nós ainda aparecemos lá.
Ri-me, não me ocorrendo mais nada para responder. Será a vida social deles ainda mais insignificante que a minha, tendo que se aproveitar todos estes convites? O que aproveitam em cada um? Não era suposto irmos para conversar? Estarão as redes sociais a ocupar tanto espaço, mas tanto mesmo que, mesmo presentes, somos notados pela ausência? Já cá esteve, deve estar a chegar, talvez venha… mas se lhe quiseres falar apanha-o no Face
Terão as conversas a mesma profundidade das mensagens que se debitam, a maior parte das vezes copiadas, nas redes sociais? A partilha é efectiva?
Um dos grupos que agora se planeia encontrar é constituído por pessoas que frequentaram a mesma escola secundária; um dos elementos, rapaz muito respeitado na altura, é agora alvo de chacota – simpática, mas chacota – por não ter Facebook. As primeiras vezes em que nos reunimos ele afirmou afirmativamente a sua negação em pertencer a redes sociais. O que terá pesado para agora o encontrar, alegre e dinâmico, a mandar piadas, a partilhar fotos e a anunciar o seu estado de espírito diário? Terá percebido que sem o Face perdia a sua antiga aura? Sentiu-se obrigado a arranjar este aliado?
Por outro lado, no primeiro fim-de-semana de Setembro organizou-se um encontro dos soldados que fizeram tropa em Beja, nos idos de 66. O meu pai, convidado, não pode comparecer, com imensa pena dele. Falando com os organizadores da coisa mencionou o Facebook alegando que era via através da qual podia ver depois as fotos que tirassem. Lá do outro lado perguntaram Ai tu tens isso?
Dias depois o meu pai recebeu no Facebook algumas imagens do jantar. Primeiro não percebeu quem era aquela gente que o contactava, depois fez-se luz: eram filhos e netos dos que tinham estado no convívio que, segundo consta, foi memorável, muitas recordações, muita conversa, muita vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário