Apesar de tanta tecnologia que nos
rodeia, de tanto telefone, de tanto correio electrónico – receptível até dentro
de água! – as pessoas têm muita saudade umas das outras.
Neste pós-férias multiplicam-se as
marcações para jantares de antigos alunos, combatentes, colegas, o que for;
sucedem-se os telefonemas a combinar encontros, para comentar as fotos das férias
já vistas e partilhadas no Facebook ou em qualquer outra rede social,
descarregadas a cada passo durante a ausência.
A minha vida social é fraquita mas em
Setembro atinge um pico que se repetirá no Natal, quando as saudades parecem
voltar à carga, sem apelo nem agravo.
A coisa é de tal forma que fui
convidada para três jantares no mesmo dia! Os convites vêm via Facebook e, reparando
não ser a única naquela circunstância, liguei a uns amigos perguntando qual deles iam aceitar, por me
ser grata a sua companhia e costumarmos ficar juntos. Fiquei banzada com a
resposta: Vamos pelo menos a dois! Jantamos
num, comemos a sobremesa noutro e se a malta for a qualquer sítio no terceiro
encontro, nós ainda aparecemos lá.
Ri-me, não me ocorrendo mais nada para
responder. Será a vida social deles ainda mais insignificante que a minha,
tendo que se aproveitar todos estes convites? O que aproveitam em cada um? Não
era suposto irmos para conversar? Estarão as redes sociais a ocupar tanto
espaço, mas tanto mesmo que, mesmo presentes, somos notados pela ausência? Já cá esteve, deve estar a chegar, talvez
venha… mas se lhe quiseres falar apanha-o no Face…
Terão as conversas a mesma
profundidade das mensagens que se debitam, a maior parte das vezes copiadas,
nas redes sociais? A partilha é efectiva?
Um dos grupos que agora se planeia
encontrar é constituído por pessoas que frequentaram a mesma escola secundária;
um dos elementos, rapaz muito respeitado na altura, é agora alvo de chacota –
simpática, mas chacota – por não ter Facebook. As primeiras vezes em que nos
reunimos ele afirmou afirmativamente a sua negação em pertencer a redes
sociais. O que terá pesado para agora o encontrar, alegre e dinâmico, a mandar
piadas, a partilhar fotos e a anunciar o seu estado de espírito diário? Terá
percebido que sem o Face perdia a sua antiga aura? Sentiu-se obrigado a
arranjar este aliado?
Por outro lado, no primeiro
fim-de-semana de Setembro organizou-se um encontro dos soldados que fizeram
tropa em Beja, nos idos de 66. O meu pai, convidado, não pode comparecer, com
imensa pena dele. Falando com os organizadores da coisa mencionou o Facebook
alegando que era via através da qual podia ver depois as fotos que tirassem. Lá
do outro lado perguntaram Ai tu tens isso?
Dias depois o meu pai recebeu no Facebook
algumas imagens do jantar. Primeiro não percebeu quem era aquela gente que o
contactava, depois fez-se luz: eram filhos e netos dos que tinham estado no
convívio que, segundo consta, foi memorável, muitas recordações, muita conversa,
muita vida.
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