terça-feira, 24 de setembro de 2013

Cuisine du futur

Acelera-se-me o coração sabendo que os meus sobrinhos estão a caminho. O mais novo ao telefone diz Quica, Quica, Quica. É Domingo de manhã e dizem-me que vêm lanchar ajantaradamente, tenho tempo para uma surpresa.
Deixo o Duarte a tomar conta de uma panela de arroz e vou ao supermercado: pão, fiambre e queijo, uma carne fatiada, uma caixa de gelado e três garrafas, tão pequenas que não chegam a ter um gole de líquido. Será mais que suficiente.
Quando chegam, abrem-se as abas da mesa da cozinha, a única que existe lá em casa, e ela põe os pratos, os talheres, os copos. Depois mando-a para a sala alegando que vou fazer um comer que vai provocar muito fumo. Fecha-se a porta e a cozinha transforma-se num laboratório de feitiçaria.
Suja-se a loiça toda, é preciso dividir o arroz em quatro porções iguais, juntar-lhe mais uma gota de água e uma gota de líquido das pequenas garrafas, uma só gota de cada garrafa em cada um dos recipientes de arroz. Para cada porção uma taça, uma colher, um prato para levar à mesa o arco-íris: há arroz amarelo-ovo, arroz verde, arroz encarnado e arroz azul.
Chamados a comer, doidos por batatas frita palha nem a olham, olhar esbugalhado preso no arroz colorido.
Percebem que é corante, o sabor é o mesmo mas as variedades - branco, verde, azul, encarnado e amarelo - são magia pura  para engolir.
No fim, alguém se lembra que devíamos ter tirado uma fotografia e a minha irmã diz-me que, em termos de técnica, os meus comeres são a concretização do desastre, mas qualquer chef adorava ter-me a trabalhar com ele, não para ajudar na nouvelle cuisine, mas para lhe apresentar a cuisine du futur

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