Imagino Mario Vargas Llosa a rir à gargalhada quando se inteirou da história que o levou a escrever sobre o Serviço de Visitadoras, criado e mantido por Pantaleão Pantoja, capitão do exército peruano. Imagino-o a correr para o papel e a caneta. Imagino-o a sentar-se e a parar de rir. Imagino-o a imaginar cada uma das personagens, a pensá-las, a entrar-lhes no corpo e na alma, que isto é maneira de falar, não literalmente, apesar do tema não creio que deva ser lida à letra. Imagino que para Vargas Llosa, Pantaleão e as Visitadoras foi uma orgia!
Explico-me para não ser mal interpretada.
Nesta narrativa há o oito e o oitenta, a ingenuidade de Pocha e a experiência de Chuchupe, a fome de prazer dos soldados e a abstémia dos irmãos da Arca, a beleza da Brasileira e a natureza da Mamuda, a mudança do vento nas opiniões de Sinchi e dos generais, e Pantoja, Panta, Pantita, quase santo, livre de vícios e obrigado a viver no meio deles, a mentir à família, a enganar-se a si próprio, a mudar, a ir dos oito aos oitenta.
Quando afirmo que Vargas Llosa pensou em cada personagem e lhes entrou no corpo e na alma, tenho provas disso: os discursos que se cruzam, aparentemente fora da lógica, mas com mais lógica que tudo o resto, ou não falássemos nós e pensássemos em simultâneo, que em simultâneo falam as pessoas, principalmente se estiverem em diferentes contextos e locais, que mundo de mudos teríamos se cada vez que um falasse em Iquitos todos os outros em Iquitos e em Lima e em Lisboa e em todas as partes se calassem?
Com este discurso o autor não nos presenteia com um livro e sim com a realidade, que se cruza, que se mescla, que se ultrapassa, que se contradiz, que se revela (não consigo deixar de me lembrar de vários autores que deviam ler estes textos vezes sem conta para aprenderem alguma coisa sobre o que é escrever, José Rodrigues dos Santos seria um bom candidato).
Assim, Vargas Llosa dá-nos a totalidade das envolvências ao mesmo tempo, como se carregasse as personagens ao colo em simultâneo, uma espécie de Árvore das Mãos de Ruth Rendell, mas com pessoas e um autor.
A forma como o autor nos leva a movimentar dentro da narrativa é única, flutuamos pela selva, pela Amazónia, em Iquitos, damos toda a atenção aos relatórios militares, escutamos atentamente as emissões radiofónicas, assustamo-nos com o Doido no hidrovião e, pelo menos eu, revolto-me com o revisor do livro. Lamentavelmente não fixei o nome deste profissional do erro e da gralha, e o livro, emprestado, foi devolvido.
O Irmão Fransisco é mencionado dezenas e dezenas de vezes ao longo das páginas e há um tal de Irmão Francisco que aparece uma ou duas vezes...
Continuo a espantar-me - já não devia... - com as fichas técnicas que anunciam tradutores e revisores e depois há mais gralhas que gotas de água no mar. Quanto terão pago ao homem? O que dirá a sua consciência? Terá consciência?
Não apontei as gralhas e é raro ler até ao fim um livro com tanto buraco, que me obriga a tanta paragem que parece uma prova de obstáculos, mas Pantaleão falou mais alto.
Pantaleão e as Visitadoras, lido em edição da D. Quixote, a precisar de revisão urgentemente.
Explico-me para não ser mal interpretada.
Nesta narrativa há o oito e o oitenta, a ingenuidade de Pocha e a experiência de Chuchupe, a fome de prazer dos soldados e a abstémia dos irmãos da Arca, a beleza da Brasileira e a natureza da Mamuda, a mudança do vento nas opiniões de Sinchi e dos generais, e Pantoja, Panta, Pantita, quase santo, livre de vícios e obrigado a viver no meio deles, a mentir à família, a enganar-se a si próprio, a mudar, a ir dos oito aos oitenta.
Quando afirmo que Vargas Llosa pensou em cada personagem e lhes entrou no corpo e na alma, tenho provas disso: os discursos que se cruzam, aparentemente fora da lógica, mas com mais lógica que tudo o resto, ou não falássemos nós e pensássemos em simultâneo, que em simultâneo falam as pessoas, principalmente se estiverem em diferentes contextos e locais, que mundo de mudos teríamos se cada vez que um falasse em Iquitos todos os outros em Iquitos e em Lima e em Lisboa e em todas as partes se calassem?
Com este discurso o autor não nos presenteia com um livro e sim com a realidade, que se cruza, que se mescla, que se ultrapassa, que se contradiz, que se revela (não consigo deixar de me lembrar de vários autores que deviam ler estes textos vezes sem conta para aprenderem alguma coisa sobre o que é escrever, José Rodrigues dos Santos seria um bom candidato).
Assim, Vargas Llosa dá-nos a totalidade das envolvências ao mesmo tempo, como se carregasse as personagens ao colo em simultâneo, uma espécie de Árvore das Mãos de Ruth Rendell, mas com pessoas e um autor.
A forma como o autor nos leva a movimentar dentro da narrativa é única, flutuamos pela selva, pela Amazónia, em Iquitos, damos toda a atenção aos relatórios militares, escutamos atentamente as emissões radiofónicas, assustamo-nos com o Doido no hidrovião e, pelo menos eu, revolto-me com o revisor do livro. Lamentavelmente não fixei o nome deste profissional do erro e da gralha, e o livro, emprestado, foi devolvido.
O Irmão Fransisco é mencionado dezenas e dezenas de vezes ao longo das páginas e há um tal de Irmão Francisco que aparece uma ou duas vezes...
Continuo a espantar-me - já não devia... - com as fichas técnicas que anunciam tradutores e revisores e depois há mais gralhas que gotas de água no mar. Quanto terão pago ao homem? O que dirá a sua consciência? Terá consciência?
Não apontei as gralhas e é raro ler até ao fim um livro com tanto buraco, que me obriga a tanta paragem que parece uma prova de obstáculos, mas Pantaleão falou mais alto.
Pantaleão e as Visitadoras, lido em edição da D. Quixote, a precisar de revisão urgentemente.
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