segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As aparências iludem

Decorria animada a conversa com amigos diante de um café, em local bem longe da moda, quando a porta do estabelecimento se abre de rompante. Um vento quente espalhou-se pelas mesas enquanto um homem de cara encarnada estica um braço apontando para a cave do local e diz, afogueado, Por ali! Imediatamente a seguir entram quatro polícias em passo apressado.
O café ficou em silêncio. Por trás do balcão o dono parou de limpar copos. Os olhares de todas as pessoas acompanharam os polícias até desaparecerem escada abaixo num tropel. Os espíritos dos presentes anteciparam mil cenários sobre actividades ilícitas por baixo dos nossos pés. Alguns, que ainda comiam, afastaram os pratos. Os que seguravam em copos e chávenas, pousaram-nos.
Passada a surpresa inicial o dono, ansioso, nervoso, deu uma corridinha saindo do balcão e com o olhar inquiriu o homem que esticara o braço, sem verbalizar nada, e sem nada ser preciso dizer da parte fosse de quem fosse que já ali estava. Então, o homem que esticara o braço, que dissera Por ali!, que usara um tom acusatório, que indicara, que apontara, que quase desvendara, deu a única resposta que ninguém esperava:
- Queriam saber onde são as casas de banho e querem jantar, eu disse-lhes que isto estava quase a fechar. 

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