terça-feira, 20 de julho de 2010

A caixa de cartão

A minha amiga I. foi de férias e trouxe-me, entre outras coisas, uma caixa de bolos, supostamente muito famosos. Nunca tinha ouvido falar deles e acho que o nome dos bolos é conhecido à semelhança do meu próprio nome no seio da minha família, que o mesmo é dizer, dentro de portas todos me conhecem, estranho seria o contrário. Porém, ela lá ouviu falar e resolveu trazê-los. Ora, felizmente, eu não sou muito dada à guloseima e dividi os doces por colegas de trabalho que os engoliam como se fossem vidreiros numa fábrica desconhecida e, de repente, se vissem a moldar por sopro em Murano! Disse-lhes que não precisavam de exagerar a qualificar o sabor dos bolinhos, e eles fizeram uma cara de relaxamento, engolindo as últimas migalhas.
Isto aconteceu ontem e o nome dos bolos não o guardei nem por dois minutos, o que pode levar a pensar que desprezei a oferta, que nem consumi.
Nada disso.
Guardei a caixa, de cartão grosso, azul celeste, com uma tampa bordada com uma borboleta e que vai ficar para sempre na minha gaveta dos brincos e demais acessórios de enfeitamento. Sempre que abrir a gaveta vou vê-la e lembrar os bolos e o meu desconhecimento da indústria pasteleira parisiense, mas acima de tudo, vou lembrar-me da I. que proporcionou aquela presença num local inacessível aos olhares alheios, mas diariamente rebuscada por mim, usada por mim.
Não aprecio presentes que se consomem, como bolos ou garrafas seja do que for, porque depois de consumidos, desaparece a lembrança da oferta, desaparece o rasto do gesto, desaparece a própria intenção, desaparece a memória.
No meio da minha eterna – e essa sim, famosa – desarrumação, há coisas que ninguém sabe o que são, mas eu sei, e sei de onde vieram, quem mas deu e em que circunstâncias foram parar lá a casa e ali, àquele sítio.
O pior é quando nos oferecem alguma coisa que não gostamos, por vezes, que detestamos mesmo! Cria-se um constrangimento e inventam-se desculpas a dizer que já temos, que nos deram um igualzinho, enfim, inventa-se. Na medida do possível, sou franca e tento dar a volta a dizer que noutra cor é que ficava bem e se não se importam que troque a oferta. Também tenho algumas coisas que foi impossível recusar ou trocar e por lá andam. Também já recebi presentes que voltei a embrulhar e voltei a oferecer, tentando não fazer como na história da gravata que foi oferecida a alguém que, não gostando dela, a guardou para a oferecer posteriormente, mas o tempo passou e tendo-se esquecido quem lha tinha oferecido, foi dá-la precisamente a essa pessoa, que logo a reconheceu...
Serve isto tudo para agradecer a caixinha de cartão, que tão bem fica na minha gaveta e que, independentemente do tamanho, cabe lá uma amizade gigantesca.

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