quarta-feira, 14 de julho de 2010

A malta quer é música!

Num estudo realizado no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), sobre a “Linha de Crédito para Estudantes do Ensino Superior com Garantia Mútua” e recentemente anunciado na comunicação social, afirma-se que entre finais de 2007 e Dezembro de 2009 foram pedidos mais de 128 milhões de euros para financiar cursos superiores. Ou seja, as pessoas pagam para providenciar a sua aprendizagem formal superior, para crescerem profissionalmente, para aumentar a sua auto-estima e caminharem num futuro munidas de ferramentas que consideram essenciais. Parece-me um bom investimento, controvérsias à parte sobre a gratuitidade do ensino.
Agora gostava de relacionar esta informação com uma realidade que se vive no calor de Verão em Portugal, num Portugal em crise, com elevados índices de desemprego, com famílias em precárias condições, com empresas a fechar e por aí adiante: os festivais de música!
Desconheço se há valores para quanto se gasta por ano em festivais de música. No site Festivais de Verão encontramos uma lista de 25 nomes de Festivais, alguns com tradição como o Super Bock, Super Rock, Optimus Alive ou Rock in Rio e locais como Paredes de Coura ou Zambujeira do Mar fazem parte obrigatória do trajecto de milhares de pessoas que não vivem sem estes espectáculos.
De acordo com o site os preços vão desde 5 euros a... 3500 euros! Estes são para os lugares VIP Deck do Sensation 2010, no pavilhão Atlântico. No fórum deste festival muitos eram os que se perguntavam se o preço era mesmo aquele e na página do Facebook do festival quando alguém perguntou se ainda havia bilhetes, a organização respondeu que sim, mas que os do Vip Deck estavam a esgotar.
Os 3500 euros contemplam “Mesas exclusivas no VIP Deck; Mesa para 10 pessoas com um serviço inesquecível que inclui: parqueamento automóvel; acesso ao interior do pavilhão por uma entrada exclusiva; encaminhamento por hospedeiras; permanência num espaço exclusivo construído para o efeito, com apenas 16 mesas e vista privilegiada para o espectáculo; 4 garrafas à escolha (champanhe; whisky; vodka ou gin) e ainda refrigerantes diversos.” Mesmo assim, são 350 euros por pessoa e por este preço eu iria querer o Elvis e o Sinatra a cantar para mim, acompanhados ao piano por Mozart e com originais de Beethoven!
Para além dos preços médios, que ultrapassam os 30 euros, ainda há que contar com deslocações, estadias, parqueamentos, alimentação e... copos!
Se pensarmos que no Rock in Rio de 2010 estiveram 329 mil almas, a 58 euros o bilhete, dá qualquer coisa como mais de 19 milhões de euros! Vamos juntar os outros festivais todos?
Não faço a mais pequena ideia de quanto é que o Prince ou os Natiruts levam por espectáculo, nem é isso que aqui está em causa, mas sim a quantidade de dinheiro que se gasta em espectáculos musicais durante o Verão e falo do gasto individual, de cada um. Pelo que me é dado a observar a grande maioria dos espectadores são jovens. Serão os mesmos que estão desempregados às pazadas e inscritos nos centros de emprego? Também são! E aqui reside o cerne do meu espanto. Eu trabalho (que nem uma maluquinha, a bem da verdade) e até gostava de ir ver um ou outro espectáculo mas não tenho capacidade financeira para o fazer.
Vão convencer-me que cada um dos espectadores vai poupando mês após mês ao longo do ano para pagar a parafernália de festas? Tentem...

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