quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sacrifícios? Façam-nos vocês!


A minha cunhada pede-me ajuda para, junto do Gabinete de Inserção Profissional da universidade onde trabalho, selecionar recém-licenciados em Gestão ou Economia para integrar uma equipa que irá proceder a candidaturas várias a projectos europeus.
Enviam-me seis currículos, cinco homens e uma mulher. Decido fazer um contacto telefónico antes e, mediante um resumo do que se pretende e do que se oferece – estágio profissional durante 9 meses, 600 euros líquidos mensais, subsídio de alimentação, eventual contrato adicional de mais 6 meses – percepcionar quem poderá ter mais capacidade de alinhar no projecto.
Dois dos supostos candidatos não atendem. Outros dois estão de férias fora de Lisboa e não podem vir – nem pense nisso, afirmou um deles quando lhe perguntei se estava disponível para uma entrevista amanhã.
O quinto, depois de me apresentar, de esclarecer os intentos do telefonema e dar as condições, ficou calado. Face ao silêncio, perguntei:
- Está interessado? Posso dar os seus contactos à empresa?
- Talvez…
- Talvez…?
- Tenho que cumprir um horário?
- Sim, é uma das condições.
- Então não obrigado, agradeço o contacto, mas horários não é comigo.
A sexta tentativa foi junto da senhora e, já sem esperança, ouvi-a responder que sim, que está interessada, que só precisa de saber o horário para eventualmente mudar uma aula de mestrado que está a terminar, e que espera que o facto de morar longe não seja um handicap, pois é cumpridora e zelosa dos compromissos que assume.
Não sei se é cumpridora ou não, pois não a conheço, mas da meia dúzia de recém-licenciados num país onde o desemprego é dramático foi a única a dizer sim. Não fosse haver dúvidas, ainda lhe perguntei:
- Percebe que terá que trabalhar agora, no Verão, que começa a 1 de Agosto?
- Sim, sim, tudo bem… sobra-me muito tempo para ir à praia e estudar, sem problemas.
Quanto aos outros, são artistas portugueses, bem conhecidos do público e que merecem grandes salvas de palmas, principalmente quando engrossarem manifestações na avenida da Liberdade a dizer que não há trabalho. Isto se a manifestação for no Inverno, vá lá, no Outono, caso contrário, manifestam-se mas é nas ondas do Algarve.

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