Ao meu lado no Metro senta-se
um homem na casa dos 50 anos. Reparei nele e tirei-lhe a idade ao ouvir o
telefone tocar, tocar e tocar, perceber que ele tinha o dito na mão, mas não
atendia.
Tentei concentrar-me na leitura mas o telefone voltou a tocar. Ele deu-lhe
uma mirada rápida, mas suficiente para eu ver pelo canto do olho a palavra
Lurdes, sinónimo que a Lurdes queria falar com ele. Mas, vá lá saber-se porquê,
ele não queria falar com a Lurdes! E por isso desligou sem atender.
Baralhei-me na leitura,
recomeçando umas linhas adiante de onde estava e voltei atrás, procurado de
novo a concentração, mas… o telefone voltou a tocar e desta feita ele atendeu
para dizer: Ouve! E nada mais, pois do outro lado solidificaram-se uns gritos
que o fizeram afastar o telefone da orelha e desligar de novo.
Ora a Lurdes pode ter muitos
defeitos mas desistente é coisa que não é e a prova provada ficou ali bem
patente, naquele balancé, onde ela ligava e ele desligava, como se empurrassem
um baloiço, à vez.
Fechei o livro e o casal que
ia sentado diante de nós e começara a conversar no início da viagem, estava
calado.
A Lurdes não se cansava e ao
homem não lhe ocorria desligar aquilo. Meteu-o no bolso, o que abafou o
barulho, mas não o calou, antes pelo contrário: numa das vezes em que tocou, talvez
pela pressão de estar apertado, premiu-se a tecla que dá ok para atender e
criou-se uma situação ridícula e cómica (para quem via, pois claro), com a
Lurdes aos gritos, perfeitamente audíveis, de dentro do bolso das calças do
homem, como se fosse uma liliputiana que ali vivesse.
Encarnado como um tomate, só aí o homem decidiu desligar o telefone. Confesso a minha curiosidade… que lhe
quereria a Lurdes…? Devia ser assunto urgente...
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