Quando oferecemos o computador aos meus pais criámos-lhes uma conta de e-mail e uma página no Facebook, que se têm mostrado bons aliados para alguns momentos de solidão, matança de curiosidades várias e grandes navegações nos mares virtuais.
Face a algumas dificuldades no manobramento de velas e burrajonas, com cabos e nós, os netos, sobrinhos e filhas dão uma mãozinha de quando em vez, com actualizações, limpezas de spam, varrimento de lixos e eteceteras.
A propósito do envio duma mensagem para as Finanças ontem limpei a caixa do correio e vi que pelo meio da ondulação estava uma mensagem cujo assunto mencionava ‘Saudoso primo’.
Um parente afastado identificava-se nomeando pai e mãe, não fosse a memória dos meus pais tê-lo apagado, e escrevia-lhes dizendo ter dificuldades em os adicionar, e perguntava se não tinham outro e-mail.
Comecei a responder, alinhando também a árvore genealógica para que confirmasse a veracidade da informação e a meio lembrei-me que os podia adicionar nas redes sociais, fazendo uma surpresa aos dois.
Tirando alguns tios e primos directos não sou grande especialista na família e tenho apenas uns ecos de nomes que andam soltos, um bocado aos trambolhões na minha lembrança, nem sei se chegam a entrar na memória, mas tinha uma vaga ideia deste primo. Porém, se lhes recordo os nomes, não faço a mais pequena ideia das ocupações ou das profissões. Quando abri a página percebi que o senhor é médico, mais propriamente ginecologista: só assim se explica a multiplicação de imagens de partes íntimas femininas no mural do ‘saudoso primo’. Sempre pensei que só existisse um médico na família, que mesmo já tendo morrido continua bem vivo em nós, e era ortopedista. Ginecologista, nunca tinha ouvido falar.
Depois lembrei-me que o ‘saudoso primo’ talvez trabalhe num jornal e faça a composição das páginas do lazer, que nos últimos anos são uma versão dos livros aos quadradinhos, a cores e com fotografias só de mulheres, um bocado a anti-matéria de certos filmes de guerra onde só entram homens, e, quem sabe, estava a trabalhar na rede social…
Pensei, pensei, pensei e acabei por não o adicionar pela simples razão que o meu pai trabalhou muitos anos num diário lisboeta e ainda deve estar cansado daquela dinâmica que, sabe-se lá, confrontado assim de repente com as novas formas de composição, ainda lhe desse uma filoxera que lhe pusesse o coração em jeitos de motor quitado.
Comentei o assunto com a minha irmã que disse imediatamente lembrar-se da personagem, mais, nunca a esqueceria! Recordava uma tarde de sábado, há muitos anos, quando tinha acompanhado os meus pais de visita ao ‘saudoso primo’ que tinha sido operado aos rins. Esperava-os um lanche, como competia, com toalha branca, café, chá e bolos. No meio da mesa, em jeito de centro floral estava o frasco com as pedras que lhe tinham tirado dos rins e que foram o centro da conversa desde que chegaram até que abalaram. Como se isso não chegasse, as pedras foram retiradas do líquido e passadas de mão em mão para avaliação de peso, textura, forma e demais características. Depois fizeram-se revisões da matéria a pedido do ‘saudoso primo’ e as pedras, quais Sivalingas do Indiana Jones, voltaram a dar nova volta de apreciação pelos dedos dos convidados.
Se um lanche pressupõe uma lição e respectivo exame de Petrologia, uma ligação na rede social pode significar sei lá o quê… Olha, ficamos assim, eles se quiserem que se adicionem depois um ao outro!
Face a algumas dificuldades no manobramento de velas e burrajonas, com cabos e nós, os netos, sobrinhos e filhas dão uma mãozinha de quando em vez, com actualizações, limpezas de spam, varrimento de lixos e eteceteras.
A propósito do envio duma mensagem para as Finanças ontem limpei a caixa do correio e vi que pelo meio da ondulação estava uma mensagem cujo assunto mencionava ‘Saudoso primo’.
Um parente afastado identificava-se nomeando pai e mãe, não fosse a memória dos meus pais tê-lo apagado, e escrevia-lhes dizendo ter dificuldades em os adicionar, e perguntava se não tinham outro e-mail.
Comecei a responder, alinhando também a árvore genealógica para que confirmasse a veracidade da informação e a meio lembrei-me que os podia adicionar nas redes sociais, fazendo uma surpresa aos dois.
Tirando alguns tios e primos directos não sou grande especialista na família e tenho apenas uns ecos de nomes que andam soltos, um bocado aos trambolhões na minha lembrança, nem sei se chegam a entrar na memória, mas tinha uma vaga ideia deste primo. Porém, se lhes recordo os nomes, não faço a mais pequena ideia das ocupações ou das profissões. Quando abri a página percebi que o senhor é médico, mais propriamente ginecologista: só assim se explica a multiplicação de imagens de partes íntimas femininas no mural do ‘saudoso primo’. Sempre pensei que só existisse um médico na família, que mesmo já tendo morrido continua bem vivo em nós, e era ortopedista. Ginecologista, nunca tinha ouvido falar.
Depois lembrei-me que o ‘saudoso primo’ talvez trabalhe num jornal e faça a composição das páginas do lazer, que nos últimos anos são uma versão dos livros aos quadradinhos, a cores e com fotografias só de mulheres, um bocado a anti-matéria de certos filmes de guerra onde só entram homens, e, quem sabe, estava a trabalhar na rede social…
Pensei, pensei, pensei e acabei por não o adicionar pela simples razão que o meu pai trabalhou muitos anos num diário lisboeta e ainda deve estar cansado daquela dinâmica que, sabe-se lá, confrontado assim de repente com as novas formas de composição, ainda lhe desse uma filoxera que lhe pusesse o coração em jeitos de motor quitado.
Comentei o assunto com a minha irmã que disse imediatamente lembrar-se da personagem, mais, nunca a esqueceria! Recordava uma tarde de sábado, há muitos anos, quando tinha acompanhado os meus pais de visita ao ‘saudoso primo’ que tinha sido operado aos rins. Esperava-os um lanche, como competia, com toalha branca, café, chá e bolos. No meio da mesa, em jeito de centro floral estava o frasco com as pedras que lhe tinham tirado dos rins e que foram o centro da conversa desde que chegaram até que abalaram. Como se isso não chegasse, as pedras foram retiradas do líquido e passadas de mão em mão para avaliação de peso, textura, forma e demais características. Depois fizeram-se revisões da matéria a pedido do ‘saudoso primo’ e as pedras, quais Sivalingas do Indiana Jones, voltaram a dar nova volta de apreciação pelos dedos dos convidados.
Se um lanche pressupõe uma lição e respectivo exame de Petrologia, uma ligação na rede social pode significar sei lá o quê… Olha, ficamos assim, eles se quiserem que se adicionem depois um ao outro!
Senhorita Areia, não sei se o texto é literário ou não, mas despertou-me a ideia, pois foi bem escrito. Imaginei a histório do distinto primo.
ResponderEliminarE imaginar que uma história pode nascer assim...de uma rede social, de uma pedra no rim, no peso e no exame de Petrologia...Parabéns.
Abraço
É sempre bom agradar aos leitores :) abraço.
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