Venerando viajantes e desdenhando turistas fico sempre de olho semicerrado quando ouço alguém dizer que conhece muito bem determinado sítio porque numa ocasião lá passou.
Quando a coisa se compõe para a conversa digo que invejo quem tem a sorte de conhecer muito bem seja que local for, pois eu, e o defeito será com certeza meu, nunca conheço bem nada, pois cada nova visita é uma descoberta nunca completamente assimilada.
Claro que sou esquisita aos olhos de quem conhece França através do relance que lhe permitiu poisar a vista na Torre Eiffel! Este síndroma verifica-se em todo o seu esplendor com o Brasil, onde um mergulho em Fortaleza tem poderes mágicos e dá conhecimentos sobre aquele imenso país!
Certos locais são muito caros, dizem-me, e justificam com a compra duma garrafa de água; não é preciso garimpar muito para se descobrir que a água foi comprada no hotel, hotel esse que alberga galáxias de estrelas que, mesmo falsas, brilham de tal forma que os clientes pensam ser verdadeiras e pagam, nem se dando ao trabalho de procurar um supermercado.
Noutras ocasiões fazem valer opiniões colhidas no tempo dos cruzados, ou por interpostas pessoas, amiúde um cunhado que viveu muitos anos na Suice ou na Alemanha, ou alicerçam-se numa reportagem que deu uma vez na televisão.
Já aqui falei dum casal que conhecemos em Marrocos, únicos e só possíveis de existir na vida real, como a Falha das Marianas ou qualquer outro erro da natureza, pois nenhum Spielberg teria imaginação para fazer nascer tais personagens, principalmente ela, cujas descrições da Tailândia me foram inesquecíveis, de tal foram que aqui as partilho.
A Tailândia tem imensos hotéis, todos enormes, com soberbas piscinas e empregados m a r a v i l h o s o s! À beira das soberbas piscinas dos enormes hotéis da Tailândia, os m a r a v i l h o s o s empregados dão massagens aos hóspedes! Não! Não são dessas… quer dizer, também devem dar, mas ali, à beira das piscinas são massagens normais.
A Tailândia também tem praias, ou melhor, a Tailândia em si, não sei se tem ou não alguma praia, mas os enormes hotéis têm de certeza! A água das praias é transparente e quente. O comer… bem, o comer… há i m e n s o, nos restaurantes dos hotéis e pode-se comer de tudo vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas!
Com uma descrição assim, e pensando agora no assunto, percebo o trauma que me ficou e, provavelmente, é por isso que nunca lá fui.
Depois há os executivos que conhecem a Europa de fio a pavio! Vão de manhã e regressam à noite ou no dia seguinte mas, mais uma vez, têm uma capacidade de ficar a conhecer as cidades onde aterram que escapa às minhas básicas competências, mas não os inibem de afirmar que conhecem bem Varsóvia ou Frankfurt, pois se ainda há semanas lá estiveram!, e sabem tudo o que há para saber acerca da cidade, por exemplo: em frente do hotel havia um enorme café que servia p’ra cima de cinquenta espécies de café; e a casa de chocolates em Bruxelas? Hein? Nunca se viu tanto chocolate junto… Como se chama? Não se lembram. Onde ficava? Na rua paralela ao hotel. O que comprou? Nada, no hotel davam amostras.
E o Sena? Os passeios que se dão por lá… e antes de ter tempo de perguntar pelos bouquinistes, já ouço que o único senão são os tipos que se espalham nas margens a vender livros velhos e papelada. E incrível como gente mais avançada que nós, os franceses!, deixam que aqueles sem-abrigo por ali andem a encurtar o espaço de quem quer passar! Aquilo é uma Feira da Ladra e é TODOS OS DIAS!
E as jóias da Rainha? Que coisa espantosa… já que foram ver a as jóias, tiveram que ir à Torre de Londres, e que tal? Não, não chegámos a ir, era para irmos, mas à última da hora o tipo que nos devia levar teve um atraso e ficámos no hotel, mas vimos um folheto com as coroas e aquilo tudo.
Engulo e pergunto porque não foram de metro. De metro? Nã… tínhamos pouco tempo, sabes, ainda nos perdíamos…
Nem perco tempo a dissertar sobre a maravilha que é perdermo-nos, o que se ganha em nos perdermos, o que ficamos a conhecer e a riqueza que trazemos para casa.
Raramente pergunto por Museus não vá a resposta enfurecer-me e eu nem sou muito amiga de museus, é mais ruas e pessoas e cheiros e sabores e sensações e empedrados e mercados e ventos e rugas e risos e estações e terminais de transportes.
Serve tudo isto para pedir que não me digam – digam a outras pessoas, há por aí tanta gente – que conhecem bem esta cidade ou aquela, pela simples razão que é uma enorme mentira.
Quando a coisa se compõe para a conversa digo que invejo quem tem a sorte de conhecer muito bem seja que local for, pois eu, e o defeito será com certeza meu, nunca conheço bem nada, pois cada nova visita é uma descoberta nunca completamente assimilada.
Claro que sou esquisita aos olhos de quem conhece França através do relance que lhe permitiu poisar a vista na Torre Eiffel! Este síndroma verifica-se em todo o seu esplendor com o Brasil, onde um mergulho em Fortaleza tem poderes mágicos e dá conhecimentos sobre aquele imenso país!
Certos locais são muito caros, dizem-me, e justificam com a compra duma garrafa de água; não é preciso garimpar muito para se descobrir que a água foi comprada no hotel, hotel esse que alberga galáxias de estrelas que, mesmo falsas, brilham de tal forma que os clientes pensam ser verdadeiras e pagam, nem se dando ao trabalho de procurar um supermercado.
Noutras ocasiões fazem valer opiniões colhidas no tempo dos cruzados, ou por interpostas pessoas, amiúde um cunhado que viveu muitos anos na Suice ou na Alemanha, ou alicerçam-se numa reportagem que deu uma vez na televisão.
Já aqui falei dum casal que conhecemos em Marrocos, únicos e só possíveis de existir na vida real, como a Falha das Marianas ou qualquer outro erro da natureza, pois nenhum Spielberg teria imaginação para fazer nascer tais personagens, principalmente ela, cujas descrições da Tailândia me foram inesquecíveis, de tal foram que aqui as partilho.
A Tailândia tem imensos hotéis, todos enormes, com soberbas piscinas e empregados m a r a v i l h o s o s! À beira das soberbas piscinas dos enormes hotéis da Tailândia, os m a r a v i l h o s o s empregados dão massagens aos hóspedes! Não! Não são dessas… quer dizer, também devem dar, mas ali, à beira das piscinas são massagens normais.
A Tailândia também tem praias, ou melhor, a Tailândia em si, não sei se tem ou não alguma praia, mas os enormes hotéis têm de certeza! A água das praias é transparente e quente. O comer… bem, o comer… há i m e n s o, nos restaurantes dos hotéis e pode-se comer de tudo vinte e quatro horas sobre vinte e quatro horas!
Com uma descrição assim, e pensando agora no assunto, percebo o trauma que me ficou e, provavelmente, é por isso que nunca lá fui.
Depois há os executivos que conhecem a Europa de fio a pavio! Vão de manhã e regressam à noite ou no dia seguinte mas, mais uma vez, têm uma capacidade de ficar a conhecer as cidades onde aterram que escapa às minhas básicas competências, mas não os inibem de afirmar que conhecem bem Varsóvia ou Frankfurt, pois se ainda há semanas lá estiveram!, e sabem tudo o que há para saber acerca da cidade, por exemplo: em frente do hotel havia um enorme café que servia p’ra cima de cinquenta espécies de café; e a casa de chocolates em Bruxelas? Hein? Nunca se viu tanto chocolate junto… Como se chama? Não se lembram. Onde ficava? Na rua paralela ao hotel. O que comprou? Nada, no hotel davam amostras.
E o Sena? Os passeios que se dão por lá… e antes de ter tempo de perguntar pelos bouquinistes, já ouço que o único senão são os tipos que se espalham nas margens a vender livros velhos e papelada. E incrível como gente mais avançada que nós, os franceses!, deixam que aqueles sem-abrigo por ali andem a encurtar o espaço de quem quer passar! Aquilo é uma Feira da Ladra e é TODOS OS DIAS!
E as jóias da Rainha? Que coisa espantosa… já que foram ver a as jóias, tiveram que ir à Torre de Londres, e que tal? Não, não chegámos a ir, era para irmos, mas à última da hora o tipo que nos devia levar teve um atraso e ficámos no hotel, mas vimos um folheto com as coroas e aquilo tudo.
Engulo e pergunto porque não foram de metro. De metro? Nã… tínhamos pouco tempo, sabes, ainda nos perdíamos…
Nem perco tempo a dissertar sobre a maravilha que é perdermo-nos, o que se ganha em nos perdermos, o que ficamos a conhecer e a riqueza que trazemos para casa.
Raramente pergunto por Museus não vá a resposta enfurecer-me e eu nem sou muito amiga de museus, é mais ruas e pessoas e cheiros e sabores e sensações e empedrados e mercados e ventos e rugas e risos e estações e terminais de transportes.
Serve tudo isto para pedir que não me digam – digam a outras pessoas, há por aí tanta gente – que conhecem bem esta cidade ou aquela, pela simples razão que é uma enorme mentira.
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