terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma questão de organização

De entre as várias tarefas que me estão confiadas está a organização de eventos científicos, que também se pode traduzir como a arte de tocar vários burros e conseguir que nenhum fique para trás: definição do programa, escolha dos conferencistas, convites, marcação de viagens, hotéis, guias, resumos e livros de actas, pastas, identificadores, traduções simultâneas, publicidades e cartazes, imprensa, cafés, almoços e jantares, menus para vegetarianos, pratos especiais para quem é alérgico a isto ou aquilo, transportes, questionários de avaliação, aspirinas para dores súbitas e mais um sem fim de aspectos que, quanto mais pequenos, mais diferença fazem.
Para isso é preciso uma equipa que, felizmente, existe e sorri. Os preparativos vêm sendo afinados desde há meses e aproxima-se agora a hora agá. Como sempre, estou nervosa: este é o maior evento que já organizei; mas como estamos bem sintonizados, acredito, como sempre também, que vai correr bem. Confio na equipa e isso é o fundamental. Sei que sou exigente, picuinhas e almejo uma perfeição a que nunca se chega, logo, nunca me dou por satisfeita. Sei que por estes dias fico irascível e fulminante, tentando antecipar qualquer coisa que possa correr menos bem e pondo em prática planos bês e cês, construindo redes sobre redes como se fosse uma trapezista com medo de cair.
Numa ocasião, depois dum outro evento, fui convidada a organizar uma visita dum grupo de arquitectos alemães a Portugal. Espantada com o convite que me parecia cair do espaço sideral, quis saber como tinham chegado até mim. A indicação fora dada por um dos participantes no colóquio anterior, com a informação que eu trabalhava à alemã. Aceitei o elogio e lamentei não poder ajudá-los.
Embora seja uma incapaz para arrumar a minha secretária, poço sem fundo e que na semana passada deu origem a um comentário sobre o facto de estar entrincheirada, dado o volume de papéis diante de mim, sei que a organização deste tipo de actividade flui nas minhas mãos.
O que mais aprecio nestas andanças é a diversidade de aprendizagens: cada evento é sobre um assunto diverso e acabo sempre por ficar a falar línguas diferentes, agora arquitectura, depois relações internacionais, história, ética, estratégia empresarial, o que for.
Há uns anos organizámos um evento internacional cujo jantar final coincidiu com o dia em que se acenderia a árvore de Natal do Terreiro do Paço. O jantar foi no Martinho da Arcada e, apesar dos milhares de pessoas que estavam na praça, os nossos convidados viram as luzes começarem a brilhar no silêncio que antecedeu a iluminação e no barulho consequente do público. Um deles, com lágrimas nos olhos, dizia que era tudo tão perfeito que não se admirava que tivéssemos encomendado a árvore só para eles. E eu perguntava-lhe se ele tinha dúvidas!
O melhor disto tudo é a correspondência que se mantém posteriormente com as pessoas, informal e indisciplinada, as visitas mútuas e a alegria do reencontro.
Espero que este não falhe a regra.

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