quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Às mãos ambas

Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia devoram-se num ápice. Muito bem escrito, Rentes de Carvalho remete para  A Cidade e as Serras, fazendo-nos rir e lacrimejar, em bolandas por esses mundos, exteriores e interiores, muitas vezes ambos escondidos, pois o exterior embora esteja por aí, de braços abertos, à espera, não se vislumbra com a velocidade a que se passa. É a chamada velocidade de turista, pois só em modo viajante os olhos se abrem e deixam entrar as memórias.
Não sei se foi da intenção do Autor ou requisito editorial, mas achei piada ao facto de se referir sempre ‘infarto’ em vez do corriqueiro ‘enfarte’ para designar o achaque do músculo cardíaco. E achei piada porque ‘infarto’ é comummente usado no sul do país, local onde o Autor parece não nos levar através da escrita mas, desta forma, percebe-se que a leitura vai sempre mais além do que se pode pensar numa primeira vista.
Porém, se o livro não tivesse o nome que tem podia chamar-se ‘Às mãos ambas’, expressão transversal a todos os contos, por prazer da escrita, por simpatia do autor, por ineficácia da revisão que podia ter sugerido alternativas, não sei. Mas com as mãos ambas seguramos o livro, lemos essa expressão que, de tão repetida, acaba por ser uma espécie de fio condutor que liga cada conto, cada narrativa, como uma assinatura que não desdenha qualquer mão, mas usa-as ambas para se identificar.

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