Minha janela virada p’ró mar… cem anos que eu viva, não hei-de esquecer-te…
Isso de eu ser uma gastadora é mentira e eu vou prová-lo aqui e agora!
Lembras-te do beijo que me enviaste ontem? Não o usei! Está guardado. Verdade seja dita que tive vontade. Mas não o fiz. Olhei para ele, mirei-o e remirei-o. Coloquei os cotovelos em cima da secretária do escritório e, com a companhia da Diana Krall, fiquei a admirá-lo. Ela até me disse have yourself a merry little christmas… enquanto me via observar o beijo. Um pouco mais tarde, impressionada com a minha persistência, ela disse também, christmas time is here e acrescentou um ponto de interrogação. Eu ia sorrindo e dizendo que sim, porque dizer yes é fácil e eu estava tão absorvida que não conseguia pensar em mais nada.
Um pouco mais tarde fui arrumar umas coisas e quem me aparece no meio duma montanha de roupa, meio escondido, quase com vergonha? Uma camisola azul escura que veio de Budapeste, onde o Klimt depositou O Beijo original para mim. Sim, o original, porquê? Eu tenho o original numa camisola…bem, vamos lá a ver esse ar de gozo e interrogação! Não tenho culpa que os museus mostrem cópias, nada tenho a ver com o assunto, não quero saber de museus…
Bem, mas não interessa. Quando vi O Beijo, lembrei-me do meu beijo que descansava algures pela casa, onde eu o tinha largado. O meu coração bateu com força e fez concorrência ao vento que teimava em entrar pelas janelas e imediatamente pensei: Porque não o gastei? Corri pela casa, descalça, por isso ando sempre com tosse, nada tem a ver com o tabaco e, de olhos bem abertos, de olfacto activo, com a sensibilidade à flor da pele, a saborear o ar e com os ouvidos alerta, não fosse escapar o som típico da concretização do que era meu e que eu deixara… onde mesmo? No escritório? Sim, tinha sido ali que eu o admirara pela última vez, enquanto a Diana me dizia I can’t give you any thing but love e quando eu lhe perguntei porque me dizia ela aquilo, ela não respondeu e continuou a cantar… gente do xoubizenesse, vá-se lá a saber o que pensam e porque o pensam e o que dizem e porque o dizem… até cheguei a colocar a hipótese de ela não estar a falar comigo. Mas só ali estava eu… quer dizer, eu e o meu beijo e com o meu beijo ninguém fala! É meu e eu não deixo. Pensando bem… vou gastá-lo, é melhor, por via das dúvidas… não vá alguém, à socapa, roubar-mo….
Quero lá saber que me chamem gastadora!
Fica sabendo: se voltares a enviar-me um beijo, gasto-o de imediato… mas devagarinho, docemente, sim porque um beijo de alguém que consegue cheirar bem depois de estar quase vinte e quatro horas acordado e em pé, é um beijo especial que sabe a primeiro beijo… escorrega através da boca e toma conta do corpo todo e faz-nos sentir no céu. Existirá o céu? Não sei… mas também não quero saber… existem beijos. E chega.
Um para ti
Camila
sábado, 12 de junho de 2010
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