terça-feira, 29 de junho de 2010

Impacienta-te

Impacienta-te.
Embriaga-te na nudez dos sentidos.
Crava as unhas na carne do tempo
Escreve a Deus.
Pede conselhos aos pés que estão ligados ao coração
Eles te encaminharão no sentido do mundo, dos outros, de nós
Ouve a música do desequilíbrio
Acredita nas fábulas do antigamente que ainda não passou
Recusa-te a visitar museus ocos
O objecto de arte sou eu, és tu, é ele, somos nós, sois vós, são eles
Ouve o musgo e a ráfia
Cheira o solstício
Sente os solilóquios alheios
No amanhecer de cada coração há sempre uma aurora boreal
Para a vermos só precisamos de fechar os olhos
Grita que estás faminto
Grita e agita-te como se sofresses de desejos primitivos
Usa o olhar como espada e como escudo
Liberta-te do cativeiro da imundície
Não descanses enquanto não fores tu
Parte-te e cola os despojos as vezes que forem necessárias
Se fores vítima de qualquer colapso é porque a poesia morreu
Espapaçado, só as lágrimas se aproveitarão
Pode ser que misturadas com lama, se molde o barro
E então, então não terás existido em vão

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