Meu caro Silvestre
Entrei pronta a ouvir, Olá, tá boa? E a responder, mais ou menos, tenho estado doente, e a ouvir de volta então o que lhe aconteceu, seguido da explicação, com poucos pormenores, que isto de doenças é sempre chato…
Entrei e não aconteceu nada disto. Pensava que estava a entrar num vão de escada e estava a entrar numa gruta iluminada por um sorriso de criança. Um sorriso de criança que me esperava para se mostrar, que ansiava dar-se, que aguardava o momento de contar, como uma criança conta a um crescido que já sabe desenhar argolas e pontes que, juntas, fazem letras ou como uma criança conta a um amiguinho que tem um brinquedo novo, fonte da sua alegria e origem da luz que emana do olhar. Ah, o olhar, sempre esse traidor…
Tendo constituído uma surpresa, não o foi. Aquele seu gabinete é um ninho de surpresas.
O Silvestre, como uma criança chamada aos trabalhos de casa, teve que sair à pressa. Porém, não o fez sem partilhar, rapidamente, a sua excitação, quase algum nervosismo, atrevo-me mesmo, a usar a palavra ‘insegurança’. Aqui, definitivamente, a surpresa. Ele nunca, nunca, até agora, tinha deixado vislumbrar esta – e aqui, falta-me a palavra adequada – imagem, pode ser esta palavra.
O alquimista, inventor, melhor, criador de ouro colorido, que deposita nas mãos nos outros (não será melhor dizer nos ouvidos…?), sem pedir em troca, sem exigir, ali estava ele, apressado, a derrubar os papéis, mostrando ansiedade, aquela ansiedade boa, que antecede algo, com a certeza que vai ser bom, cumprindo o ritual da espera, esperando que ela termine mas, em simultâneo, querendo que se prolongue, ao sabor da imaginação, banhada pela água do Atlântico, onde o ser que dele se apoderou, navega.
Você lembrou-me um extraterrestre a procurar o amor e, temendo encontrá-lo e que se desfaça como um castelo de areia na praia, vibra, admirando-lhe as torres, as muralhas, mesmo que esburacadas e, rezando para que o mar calmo permaneça, deixa a turbulência dentro de si, sem dela dar mostras, embora um laivo de insegurança tenha surgido como um farol de um carro rápido a alta velocidade.
Será medo? Medo de algum dia encontrar o que procura?
Se for medo, terá que ser doloroso, porque o alívio, compensará a intensidade da dor.
Às vezes vale a pena doer…
Sinta-se abraçado pela sua amiga
Camila
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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