Rapariga com brinco de pérola.
Fui conquistada por este livro na primeira linha. E isso não é fácil de acontecer.
A narração na primeira pessoa é (quase) sempre um aliciante, qualquer coisa que me puxa para dentro da acção e, mais ainda, das pessoas, o que foi plenamente conseguido. Sentir as dores e as alegrias dum personagem, cansarmo-nos com os seus cansaços, afoguearmo-nos com as suas ansiedades, tremermos com os seus medos, tiritarmos com o seu frio. Há uma proximidade maior do que através da mediação do narrador, cujo olhar não podemos ter a certeza de ser fiel.
É raro não dar uma olhadela ao final dum livro, ler as últimas linhas. Aqui não o fiz, queria lá chegar depressa, mas sem alterar o curso dos acontecimentos, sem fazer batota. Como quem quer dar uma nova volta no carrossel, antes de terminar a anterior. Tinha pressa em chegar ao fim para recomeçar a leitura, voltar a ouvir a água correr nos canais, a entrar no mercado, a visitar a casa dos pais de Griet ou a sentir pena pelas queimaduras nos braços do irmão. Não é a primeira vez que me apaixono por uma cidade ou um local depois duma leitura e sei que, de novo, esta me levará lá.
Terminei a leitura com a tristeza habitual de quem tem fome mas tem o frigorífico vazio. Depois disso agarrei Jim, o Sortudo, porque, tal como primeiro, custou 1 euro e vem por acréscimo com uma revista ou jornal que não me lembro qual é.
Vou perto da vigésima página e ainda não fui agarrada, nem sei se o serei. Recordo apenas o nome dum personagem e não me lembro onde se passa a acção. Leio por vício, como quem tem de comer.
Na minha mais recente mudança de casa voltei a encontrar um livro – O Código dos Woosters – que de vez em quando me aparecia pela frente desde há anos, mas nada me inclinava para o ler. Como as arrumações dos livros demoraram algum tempo, aquele livro foi ficando por ali até que o agarrei e lá o li. A leitura não era cansativa, tinha acção, tinha até momentos cómicos. Porém, passados três ou quatro meses da leitura, apenas me lembro que decidi que o leria e fi-lo. A cada dia não me recordava do que lera no dia anterior, mas continuava a avançar numa teimosia de o terminar. Será isto gula?
Comer mesmo sem fome, sentir-me obrigada a ler mesmo sem interesse? Pois não sei.
No caso do livro da Rapariga com brinco de pérola ainda tinha como bónus o facto de não haver gralhas e da tradução não demonstrar erros. Pode parecer infantilidade mas ninguém imagina como me sinto feliz quando isto acontece...
Apetece-me guardar o livro, escondê-lo, não o emprestar e, contudo, falar dele a toda a gente.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
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