É domingo e parei agora de trabalhar.
Levantei-me cedo, como gosto, e as oito e meia da manhã já me apanharam sentada à secretária, computador ligado, documentos abertos, para que, no caso, corrigisse umas provas tipográficas.
Recorrentemente lembro a minha letra insegura que escrevia no diário adolescente afirmando que era impossível alguém trabalhar mais do que eu tinha trabalhado, a estudar. Rio-me sempre, mas não deixo de pensar na verdade daquelas palavras, na altura, tão distante, hoje.
Ninguém me obriga a estar aqui, a vir, mas não sou capaz de não o fazer: tenho imenso trabalho, não atrasado, é só muito.
Há pessoas que dizem que não devia trabalhar assim tanto, e não devia, por motivos de saúde, sei que não descanso o suficiente, mas também me apontam por habituar mal a hierarquia, por estar sempre disponível, por não saber dizer não.
A bem da verdade, não sei dizer não lá muito bem, é certo, mas também é verdade, de hoje, de ontem e, provavelmente, de amanhã, que gosto de trabalhar.
Gosto, ou não tenho vida social? Gosto, ou não tenho um companheiro para me entreter? Gosto, ou o meu filho já tem vida própria e eu fico sem saber o que fazer? A resposta a tudo é sim, também, o que não invalida de gostar do que faço, principalmente agora, com um projecto novo entre mãos, que me delicia. A prová-lo está o facto de ter sido sempre voluntariosa e empenhada, mesmo quando era casada e o meu filho pequeno.
Claro que me sinto penalizada com o ordenado que recebo, que gostava que fosse bem maior, claro que sim, mas esse aspecto nunca me fez ficar em casa aos fins-de-semana quando tinha coisas urgentes para fazer, nunca me fez adiar fosse o que fosse, nunca me segurou.
Trabalho por brio, antes de ser por prazer ou por obrigação e sou condenada e apontada por isso. Honestamente penso que dou muito à empresa que me paga o vencimento ao fim do mês, mas reconheço que ela também faz por mim; da mesma forma sei que fui eu a dar o primeiro passo e vejo à minha volta muitas queixas, umas com razão e outras nem por isso.
Quando trabalhava na Câmara Municipal os meus colegas diziam-me, meios a sério, meios a brincar, que não podia ficar fora de horas pois a inspecção do trabalho podia aparecer de repente. Por entre os sorrisos da jocosidade ficava a mensagem, que eu não servisse de modelo para que alguém os obrigasse a trabalhar mais, horas de entrada e saída são coisas sérias e merecem respeito.
Hoje, as pessoas que olham primeiro para o relógio e depois para o trabalho que têm em mãos são as que se mostram incapazes de dar o tal primeiro passo. Desfiam o que a empresa não fez por elas e arremessam esses argumentos para não fazer mais que a sua obrigação. Mais uma vez, há quem lhe sobre razões para o fazer e quem não as tenha. Há pessoas que se esforçaram e empenharam durante anos e não conseguiram ver essas atitudes minimamente recompensadas, o que é injusto, sei do que falo pois trabalho com alguém assim. Percebo-as, e se em simultâneo o estado do país não permite que nos agarremos a certas coisas, por outro lado os baixos ordenados não deixam margens para grandes compreensões. Gostava imenso de ter uma solução, mas não tenho.
Ainda assim, penso que os que mantêm um emprego, um trabalho, deviam dar graças por isso e sentirem-se valorizados. Acredito nisto, mas logo me saltam ao espírito exemplos que o contrariam, exemplos de pessoas concretas, de vidas difíceis, que eu adorava resolver, mas não consigo.
O que consigo é adiantar trabalho, e por isso aqui estou, bem ou mal, não sei, mas estou e, com saúde, repetirei, como faço tanta vez.
Levantei-me cedo, como gosto, e as oito e meia da manhã já me apanharam sentada à secretária, computador ligado, documentos abertos, para que, no caso, corrigisse umas provas tipográficas.
Recorrentemente lembro a minha letra insegura que escrevia no diário adolescente afirmando que era impossível alguém trabalhar mais do que eu tinha trabalhado, a estudar. Rio-me sempre, mas não deixo de pensar na verdade daquelas palavras, na altura, tão distante, hoje.
Ninguém me obriga a estar aqui, a vir, mas não sou capaz de não o fazer: tenho imenso trabalho, não atrasado, é só muito.
Há pessoas que dizem que não devia trabalhar assim tanto, e não devia, por motivos de saúde, sei que não descanso o suficiente, mas também me apontam por habituar mal a hierarquia, por estar sempre disponível, por não saber dizer não.
A bem da verdade, não sei dizer não lá muito bem, é certo, mas também é verdade, de hoje, de ontem e, provavelmente, de amanhã, que gosto de trabalhar.
Gosto, ou não tenho vida social? Gosto, ou não tenho um companheiro para me entreter? Gosto, ou o meu filho já tem vida própria e eu fico sem saber o que fazer? A resposta a tudo é sim, também, o que não invalida de gostar do que faço, principalmente agora, com um projecto novo entre mãos, que me delicia. A prová-lo está o facto de ter sido sempre voluntariosa e empenhada, mesmo quando era casada e o meu filho pequeno.
Claro que me sinto penalizada com o ordenado que recebo, que gostava que fosse bem maior, claro que sim, mas esse aspecto nunca me fez ficar em casa aos fins-de-semana quando tinha coisas urgentes para fazer, nunca me fez adiar fosse o que fosse, nunca me segurou.
Trabalho por brio, antes de ser por prazer ou por obrigação e sou condenada e apontada por isso. Honestamente penso que dou muito à empresa que me paga o vencimento ao fim do mês, mas reconheço que ela também faz por mim; da mesma forma sei que fui eu a dar o primeiro passo e vejo à minha volta muitas queixas, umas com razão e outras nem por isso.
Quando trabalhava na Câmara Municipal os meus colegas diziam-me, meios a sério, meios a brincar, que não podia ficar fora de horas pois a inspecção do trabalho podia aparecer de repente. Por entre os sorrisos da jocosidade ficava a mensagem, que eu não servisse de modelo para que alguém os obrigasse a trabalhar mais, horas de entrada e saída são coisas sérias e merecem respeito.
Hoje, as pessoas que olham primeiro para o relógio e depois para o trabalho que têm em mãos são as que se mostram incapazes de dar o tal primeiro passo. Desfiam o que a empresa não fez por elas e arremessam esses argumentos para não fazer mais que a sua obrigação. Mais uma vez, há quem lhe sobre razões para o fazer e quem não as tenha. Há pessoas que se esforçaram e empenharam durante anos e não conseguiram ver essas atitudes minimamente recompensadas, o que é injusto, sei do que falo pois trabalho com alguém assim. Percebo-as, e se em simultâneo o estado do país não permite que nos agarremos a certas coisas, por outro lado os baixos ordenados não deixam margens para grandes compreensões. Gostava imenso de ter uma solução, mas não tenho.
Ainda assim, penso que os que mantêm um emprego, um trabalho, deviam dar graças por isso e sentirem-se valorizados. Acredito nisto, mas logo me saltam ao espírito exemplos que o contrariam, exemplos de pessoas concretas, de vidas difíceis, que eu adorava resolver, mas não consigo.
O que consigo é adiantar trabalho, e por isso aqui estou, bem ou mal, não sei, mas estou e, com saúde, repetirei, como faço tanta vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário