quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Paciência de santo


Sucedem-se os exames médicos. Antigamente os senhores doutores eram poupados nas previsões como se antecipando chuva a gastassem. Agora não, dizem tudo e mais um par de botas, não há cá poupanças nas doenças e suas consequências, pão pão, queijo queijo. Assim, avizinhando-se um corte daqueles à moda antiga, a ansiedade cresce.
Terça de Carnaval foi um dia animadíssimo no Hospital de Santa Marta, aguardando que os exames finais se fizessem. Ontem foi dia de consulta para que o sôtor visse as imagens que lhe enviaremos para o computador. Mas o sôtor não viu, não por culpa dele, mas por que há sempre alguém pior que nós. Volte cá na quarta-feira senhor Bento, foi dito com tanto carinho que parecia meu irmão. 
O meu pai tem um sotaque que a maior das pessoas atribui à sua nacionalidade finlandesa, ucraniana, espanhola, eu sei lá, venham nacionalidades e qualquer uma serve. Ganhou esta característica bem como um ligeiro gaguejar com um AVC há uns anos. No hospital há pessoas que o preterem para perguntar qualquer coisa pois não se pergunta nada a um estrangeiro, como é óbvio. 
Ainda assim ele vai ajudando nas explicações, não, hoje não é dia do doutor Fulano dar consulta, ele está cá mas está no bloco, olhe minha senhora, esse assunto é no edifício ali do lado, entre no claustro, sabe, aquele jardinzinho, e vire à sua direita, sabe ler?, desculpe a pergunta, sim?, então assim que virar à direita vê logo a indicação da Radiologia. 
Nem todos agradecem e há quem se insurja violentamente sem perceber que nos estar num hospital é esperar, esperar o tempo que for preciso.
No dia dos exames tirou-se uma senha e sentámo-nos. Imediatamente a seguir apareceu outro cliente de Santa Marta, já conhecido, mas que nasceu em época de férias da paciência. Não tardou que o homem começasse a falar sozinho, que isto não pode ser, que não se despacham, que aquilo não é a vida dele, e que isto e que aquilo, e toda a gente a assoprar com a ladainha do homem.
Com infindável paciência o meu pai dirigiu-se ao homem e disse-lhe que ia no 2 e que lhe dava a senha 3. O homem aceitou imediatamente, com um obrigado entre dentes e calou-se. 
Verificado o novo número era o 4, o meu pai sorriu e disse baixinho:
- Não custa nada, pois não?

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