Jurgen Habermas é o cabeça de cartaz da Conferência Internacional de Educação promovida pela Gulbenkian, Os Livros e a Leitura: Desafios da Era Digital.
Cedo ainda, já eu lá estava e foi com dificuldade que encontrei lugar numa sala: para além do auditório reservado para o efeito, todos os espaços foram ocupados com os interessados na matéria e, claro, interessados em ouvir o grande pensador; cadeiras, escadas, chão, vãos de janelas, encostados à parede, qualquer sítio era bom.
Porém, o grande pensador - estatuto inegável - é alemão, todos sabíamos. Também todos calculariam que falaria em inglês, no surprise; também sem Überraschung verificou-se um forte sotaque alemão, mas, pelo menos para mim, a surpresa maior foi o facto de o senhor ser fanhoso e, aparentemente, estar constipado. Assim, uma voz com as debilidades naturais de oitenta e quatro anos, a falar uma língua estrangeira com marcadas cicatrizes da língua original, fortemente nasalada é igual a falta de passagem da mensagem, perceptibilidade zero.
O filósofo por quem eu ansiara mostrou-se-me ausente: a pessoa muito capaz de escrever, de pensar, reflectir, ponderar, pode até ser fisicamente capaz de ser entrevistado, de conversar, mas não de dar uma conferência, onde se afiguraram fantasmagóricas as partes visível e audível, no fundo, o contacto com quem o escutava.
Não se pode prescindir de certas cabeças, aquelas que parecem ter um exército de átomos sempre a renovar-se, produzindo visões e conceitos e abordagens e críticas, mas também não se devia pedir, nem aceitar, uma situação que roça o embaraço, uma pesca à linha de palavras, como quem sorve, mas não saboreia.
Em Outubro do ano passado, também na Gulbenkian, ouvi Alberto Manguel, durante quinze minutos. Na altura dei conta disso. Foi um inspirar, não chegou a ser respirar... tanto e tão pouco, agora reproduzido, noutra versão, outra desilusão.
Cedo ainda, já eu lá estava e foi com dificuldade que encontrei lugar numa sala: para além do auditório reservado para o efeito, todos os espaços foram ocupados com os interessados na matéria e, claro, interessados em ouvir o grande pensador; cadeiras, escadas, chão, vãos de janelas, encostados à parede, qualquer sítio era bom.
Porém, o grande pensador - estatuto inegável - é alemão, todos sabíamos. Também todos calculariam que falaria em inglês, no surprise; também sem Überraschung verificou-se um forte sotaque alemão, mas, pelo menos para mim, a surpresa maior foi o facto de o senhor ser fanhoso e, aparentemente, estar constipado. Assim, uma voz com as debilidades naturais de oitenta e quatro anos, a falar uma língua estrangeira com marcadas cicatrizes da língua original, fortemente nasalada é igual a falta de passagem da mensagem, perceptibilidade zero.
O filósofo por quem eu ansiara mostrou-se-me ausente: a pessoa muito capaz de escrever, de pensar, reflectir, ponderar, pode até ser fisicamente capaz de ser entrevistado, de conversar, mas não de dar uma conferência, onde se afiguraram fantasmagóricas as partes visível e audível, no fundo, o contacto com quem o escutava.
Não se pode prescindir de certas cabeças, aquelas que parecem ter um exército de átomos sempre a renovar-se, produzindo visões e conceitos e abordagens e críticas, mas também não se devia pedir, nem aceitar, uma situação que roça o embaraço, uma pesca à linha de palavras, como quem sorve, mas não saboreia.
Em Outubro do ano passado, também na Gulbenkian, ouvi Alberto Manguel, durante quinze minutos. Na altura dei conta disso. Foi um inspirar, não chegou a ser respirar... tanto e tão pouco, agora reproduzido, noutra versão, outra desilusão.
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