quinta-feira, 24 de outubro de 2013

É do dia, só pode ser do dia

É do dia, só pode ser do dia, da chuva, do cinzento que me transmite esta tristeza profunda, não há-de ser de mais nada.
Não pode ser da surdez de quem eu precisava que me ouvisse, da insensibilidade de quem eu esperava que fosse sensível, da falta de preocupação de quem tinha obrigação de se preocupar, da cegueira de quem devia ter olho de falcão.
Escolho a música, escolho-a alegre e descontraída mas de repente já estou a ouvir melodias que cavam mais fundo nesta tristeza; desligo o rádio, forma de expressão para dizer que fecho o youtube, e daí a nada lá está ele a tocar novamente, como se a música fosse a última companhia, o derradeiro afago, um abraço compensador.
Acredito que o problema será meu, que nunca me mostro frágil e de repente é como se todas as fragilidades e fraquezas viessem ao cima, com a água da chuva, ficam a boiar diante de mim e não tenho forma de as afastar. Quando dou conta explodem à minha volta, trazendo lembranças e memórias, injustiças, falta de reconhecimento, infidelidades, esquecimentos, risos cínicos, e trabalho, muito trabalho, que uso da melhor forma possível para me afastar de tudo, até de mim. Afasto também as lágrimas cerrando os dentes, tanto, tanto que temo parti-los. 

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