quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Desgraça


Desgraça é perturbador. Desgraça é profundo. Desgraça é marcante. Desgraça é desconfortável. Como qualquer desgraça, de resto.
Uma das melhores leituras dos últimos tempos, violento e determinado, cru. Desgraça tem um nome perfeito, melhor que racismo, que conflito, que violação, que culpa, que destruição, que vazio, que obsessão, porque Desgraça é tudo junto e muito mais.
A África do Sul aparece-nos negra, mais pelos conflitos do que pela pele. Franzimos o sobrolho ao protagonista mas temos pena dele; franzimos o sobrolho à teimosia da filha, mas também sentimos que faz o que está certo; franzimos o sobrolho perante a eutanásia dos animais mas acabamos por encolher os ombros.
No fim pensamos com todo o vigor e força da nossa perfeita estupidez: ufa, ainda bem que a África do Sul está lá tão longe!
Desgraça é um encontro com cada um de nós, cá bem no interior, uma reunião com o medo, um assomo a incompreensões, principalmente europeias que não conhecem as raízes da situação.
Devia ser obrigatório ler a Desgraça de J. M. Cootze, no fundo, a nossa desgraça, porque contém verdades que penetram até ao osso.
Lido em edição da Leya, publicado em 2011.
Depois da leitura, em discussão sobre o abismo onde a Desgraça nos leva, fiquei a saber que Steve Jacobs filmara a história com o poderoso John Malkovich como protagonista. Não vi, mas fiquei curiosa.

2 comentários:

  1. Também o li mas há muitos anos. E também me marcou. Uma forma de contar a história que nos deixa incomodados na nossa pele. o filme não vi.

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  2. Depois de certas leituras penso com frequência que já devia ter lido aquilo, como quem sabe que já devia ter matado a fome, aquela, concretamente. também nunca vi o filme, mas ando curiosa por o encontrar.

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