Django. O D é mudo. Assim repete o protagonista
que distribui tiros mortais quando alguém não cumpre.
O rapaz Tarantino – cujo nome me lembra o meu avô
que chamava tarantina ao cinto com
que ameaçava os meus primos recém-chegados de Angola e que faziam as maiores tropelias
– dirige cenas que podem ser confundidas com fontes luminosas, daquelas que
esguicham água colorida, fazem efeitos diversos, mas com uma pequena diferença,
ele usa sempre a mesma cor, encarnado-sangue.
Não tenho qualquer predilecção por Leonardo
DiCaprio mas darei o braço a torcer pela verdade vista e já reformulei a minha
opinião sobre aquele que me parece sempre criança e sem maturidade facial para
a maior parte dos papéis que lhe dão. Leonardo é um eterno adolescente muito
bonito que precisa de rugas e cicatrizes para ter mais credibilidade nos papéis
que desempenha. Reconheço-lhe o esforço e a encarnação nos bonecos, mas depois
vejo-lhe a cara e está tudo estragado. Bom, mas aqui revela-se e gostei imenso
dele.
Samuel L. Jackson – que adoro – fez-me adorá-lo
ainda mais. Perfeito na anormalidade histórica, pois para atingir aquela
perfeição só encarnando a imperfeição do irracional, do anti natura, tão
natural na época e naquelas paragens.
A justiça e a vingança, nem sempre pelos melhores meios
e caminhos, mas faz-se. Faz-se até à distância e, como também aconteceu em Sacanas Sem Lei, queremos acreditar que
os bons ganham, mesmo que tenham que morrer alguns.
Hans Landa – Waltz será sempre Landa, como Connery
é James Bond, como Harrison Ford é Indiana Jones, como Brandon é o Padrinho – é
um bocado de plasticina que ele próprio molda à sua vontade pondo pés de cabra
e corpo de gigante, um olhar caleidoscópico, gestos que já lhe eram naturais
antes de nascer, enfim, um poço de onde se tira tudo quanto se quer.
Amei a ingenuidade de Jamie Foxx. Forte desde a
primeira imagem, não há uma passagem, uma transformação na personagem. Apenas nos
é dado ver como ela evolui na exposição daquilo que é na essência. Mesmo agrilhoado
já lá estava tudo.
E estava mesmo tudo, a música, os planos, a
escolha do formato das letras, tudo nos remete para filmes dentro de filmes –
Franco Nero mostra-se durante breves momentos! – como quem faz uma pergunta
sobre a actualidade política e leva como resposta a história de Portugal a
começar nos Afonsos, mas de forma resumida, sintética e altamente eficaz. Cada filme
de Quentin Tarantino é uma viagem, mais que qualquer outro.
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