quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Serviços de limpeza Faça Você Mesma


A limpeza e arrumação do mau vasto palacete são feitas por mim e pelo Duarte com uma ajuda da minha mãe. Não foi sempre assim, e tempos houve em que tinha uma empregada que passava a ferro e limpava a casa. As casas onde tenho morado ultimamente têm diminuído de tamanho, éramos três e agora só somos dois e, acima de tudo, não há dinheiro, pois se o houvesse, pagaria a alguém para fazer o que detesto: arrumações.
A primeira pessoa que contratei com este objectivo andou lá por casa o tempo que demorou até descobrirmos por que razão a conta do telefone era de vários contos de réis, quando nós nunca estávamos em casa.
Quando, finalmente, a Companhia nos enviou uma lista de números para os quais alguém ligava durante o dia, e durante hora e meia seguida!, verificou-se pertencerem todos à mesma aldeia de onde era a senhora, sendo muitos dos telefonemas para casa dos pais e vários outros para a restante família.
Para não haver confusões o dinheiro pago ao final do mês era sempre dado em mão e fui a casa dela, não pagar-lhe, mas pedir-lhe o que faltava face à factura do telefone que levava na mão. O marido da dita correu comigo aos gritos com um sortido de palavras pouco simpáticas, faltando-lhe apenas a espada em defesa, não sei se da sua amada ou da sua reduzida conta telefónica durante os meses que a esposa trabalhara na minha casa.
A segunda era a D. Maria e esteve connosco vários anos apesar de uma enorme incompatibilidade entre as mariquices que eu tinha em cima dos móveis e a sua própria natureza e hábitos: a D. Maria era uma pessoa do campo e limpava o pó olhando gulosa para o quintal que lhe dirigia um chamamento silencioso para que o fosse cavar. E ela ia com alguma frequência, fazendo a lida da casa em velocidade acelerada e tratando do quintal com esmero de mãe e muitos mimos.
Numa ocasião visitei o Teide e carreguei com umas pedras de 3700 metros acima do nível do mar até casa, que muito trabalho me deram a manter durante a viagem. Aterraram em cima da lareira durante uma semana e foram parar dentro da lareira assim que a D. Maria lhes pôs a vista em cima! Quando perguntei pelas pedras ela não sabia de nada, mas depois lembrou-se de qualquer coisa: sim, de facto estavam uns carvões em cima da pedra da lareira, com certeza fora o Duarte, que ainda era pequeno, que ali os pusera, mas eu que não me preocupasse que ela tinha limpo tudo... 
A D. Maria morava perto de mim, numa casa isolada com uma cerca de arame a toda a volta, arame que ninguém saltava a menos que quisesse travar amizade com a meia dúzia de cães que lá moravam também, todos de dente afiado e doidinhos por morderem alguma coisa ou alguém. À pala deles apanhei grandes molhas à espera que a D. Maria, o marido ou uma das filhas ouvissem a campainha, descobrissem as chaves, percorressem a distância até à porta e atravessassem a pradaria que ficava entre a casa propriamente dita e a cerca que punha os intrusos à distância, para lhe pagar.
Muitas das vezes, lá do alto de uma janela que abria para ver quem era, gritava-me que entrasse, que o portão estava no trinco. Entrar? Eu? Tá quieta!
A D. Maria era excelente pessoa mas fraca empregada e começou a acontecer vezes a mais da conta eu ter que limpar o que estava supostamente limpo; assim, com grande dificuldade face a tantos anos de relacionamento e aproveitando as queixas de cansaço dela, disse-lhe que prescindíamos dos seus serviços. Felizmente não houve dramas e com surpresa minha fiquei a saber que ela própria queria deixar o trabalho, mas não sabia como havia de me dizer.
Depois contratei uma senhora que era o oposto da D. Maria e recantos da casa houve que foram lavados e limpos pela primeira vez na vida. A casa andava um esplendor, as horas semanais eram pouquíssimas e pagas mais baratas que as da D. Maria. Um mistério.
Um dia cheguei mais cedo e a senhora ia a sair. Por mero acaso reparei que tinha acabado de passar uma camioneta e ofereci-me para lhe dar boleia pois a minha casa ficava afastada de tudo e qualquer pão tinha que ser comprado de carro. A senhora agradeceu disse que não era preciso pois ela ia e vinha sempre a pé. A pé? Mais uma razão para lhe dar boleia. Fui levá-la no meio de muitos agradecimentos e antes de a deixar em casa já tinha mentalmente decidido aumentá-la e pagar-lhe o passe da camioneta: demorei cerca de vinte minutos a chegar a casa dela e percebi que aquele percurso era feito a pé quatro vezes por semana, com chuva ou com sol.
Na semana seguinte deixei-lhe uma mensagem num papel, para não a constranger com conversa, dizendo que ali ficava um adiantamento em dinheiro para os bilhetes até ao fim do mês e que se fosse inteirar do valor do passe, que eu pagava. Nessa noite lá estava a mensagem e o dinheiro em cima da mesa da cozinha tal como os tinha deixado. Porque não os teria aceitado? Bom, falaria com ela no fim do mês. Assim, uma semana e meia depois cheguei mais cedo propositadamente e perguntei por que razão não aceitara a minha oferta. Qual oferta…?
Ela vira o dinheiro e a mensagem mas como não sabia ler nem lhe passou pela cabeça que fosse para ela.
Esclarecida a coisa, voltei a levá-la a casa onde a deixei feliz com um aumento inesperado e com dinheiro para andar de camioneta. Quem ficou infeliz fui eu quando, meses mais tarde, ela nos disse que se ia embora pois o marido arranjara emprego no Algarve, para onde se iam mudar. No último dia de trabalho fiz questão de estar em casa para me despedir dela. Quando cheguei toquei à campainha, ela abriu e chamou um homem que estava dentro de um carro parado à minha porta. Era o marido que vinha dar-se a conhecer e despedir-se também, agradecendo muito e manifestando pena em irem-se embora.
Depois veio uma senhora muito tímida que me disse que estava com muito azar uma vez que estivera poucas semanas nas duas últimas casa onde trabalhara: começava e o casal divorciava-se! Esteve três meses lá em casa comigo e não sei ao certo se ficou mais tempo ou não porque… sai de casa. Nunca deixei de me rir com esta coincidência e sempre imaginei que a senhora tinha começado a fazer terapia logo a seguir.
Depois de termos decidido viver juntos de novo, e depois de um interregno em casa dos meus pais, comprámos uma casa nossa e arranjámos outra empregada, a mais divertida de todas!
Ligava-me para o telemóvel de um telefone fixo e dizia:
- Já estou em sua casa, quer que passe a ferro ou que arrume a casa?
- Mas… tem a certeza que está em minha casa?
- Sim, por que pergunta?
- É que eu não tenho telefone fixo e aqui no visor aparece o número da sua casa…
A lata e as estratégias para aumentar as horas de trabalho não ficavam por aqui:
- Olhe, estou aqui no café por baixo da sua casa a beber um cafézinho antes de subir, quer que faça alguma coisa em especial?
Verificado o número de telefone era do café sim, mas de um ao lado da casa dela e não da minha.
Este namoro durou apenas mês e meio e terminou no dia que cheguei a casa e estava um monte de lixo à entrada da cozinha. Telefonei-lhe a saber se tinha havido uma qualquer urgência que a tivesse levado a sair de repente e fiquei a saber que não, apenas tinham acabado as horas combinadas e já não tivera tempo de apanhar o que varrera…
Face a esta resposta perguntei-lhe quando lhe devia e disse-lhe que o dinheiro estava disponível imediatamente. Ainda não tinha decorrido uma hora quando a filha tocou à campainha  tendo anunciado que viera buscar o dinheiro da mãe. Não lho dei e mandei o recado que apenas lho daria a ela própria e na frente de alguém. Não quis e acabou por me pedir que o entregasse à minha amiga que a tinha sugerido e em casa de quem também trabalhava, e ainda hoje trabalha, sem queixas nem reclamações, pois que queixas e reclamações se têm de alguém que até para o estrangeiro nos leva de férias?
A última, a derradeira, foi a Teresa, com quem ainda hoje tenho excelentes relações. A Teresa trabalha numa padaria, entra às quatro da manhã e sai à uma da tarde, tarde que tem livre e durante a qual tem várias casas para limpar. Trabalha que nem uma moira, sempre de sorriso na cara, mesmo com problemas, por vezes graves. 
Começou a ajudar-nos ainda eu era casada e depois ainda passou para outras duas casas onde estivemos  sendo que, na terceira, com imensa pena minha, tive que lhe dizer que não podia pagar-lhe. Ela percebeu, perdi uma empregada e ganhei uma amiga, uma simpatia de pessoa, brincalhona e sempre com uma palavra amável para dar. Visito-a bastantes vezes e vou à padaria só para a cumprimentar e receber um sorriso que sei ser generoso e amigo, puro.
Foi para a Teresa o meu primeiro pensamento quando pensei em contratar alguém para fazer uma limpeza específica lá em casa. O tecto da casa de banho e de uma parte da varanda estão a começar a bronzear-se de tal forma que, ali sim, se aplica uma frase que antigamente ouvia com frequência no fim do Verão, aplicada à minha pessoa e na sequência de bronzeados intensos: estás preta que nem um chouriço!
Pois que nem chouriços estão a começar a ficar aqueles que eram albinos e dando luta às tonturas e a um certo síndroma de Ménière ainda me empoleirei em cima de um escadote mas nada feito.
O Duarte também já pincelou os tectos com um esfregão com lixívia, tarefa onde levou negativa. 
A Teresa mora longe e perguntei à dona do café por baixo da minha casa se conhecia alguém que tivesse disponibilidade para me ajudar, já que durante tantas e tantas vezes que ali estou, a ouço dizer que vai ali toda a gente à procura de trabalho. Que ia saber, disse-me. Três semanas depois desistiu.
Indaguei junto das senhoras que fazem limpezas na empresa onde trabalho, se alguma estaria disponível,  explicando que será trabalho para uma manhã ou tarde, explicação um tanto enfiada pois tenho bom corpo para trabalhar e sinto-me um bocado anormal ao fazer o pedido. Nada. Uma tem uma neta de quem toma conta nas horas vagas, a outra mora do lado de lá do rio, a outra tem uma dor nas costas agora não pode, uma outra - que mora em Odivelas - acha que a Amadora fica muito longe. Ofereço-me para a ir buscar e levar, agradece e reforça o não, diz que não quer incomodar... 
Oh minha senhora, por quem é!, eu é que não a quero incomodar a si!
Isto é o que dá viver em alturas das chamadas vacas gordas! A bem da verdade eu é que não estou a ver bem a coisa e vou fazer como o homem que comprou um carro e passada uma semana foi devolvê-lo alegando que queria um novo pois aquele tinha os cinzeiros cheios. Não vou gastar tempo em limpezas e vou comprar uma casa nova!

Sem comentários:

Enviar um comentário