quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal


No dia de Natal levantei-me cedo, vim para Lisboa para que o Duarte passasse o dia com o pai e com a sua família. Tendo o dia livre já me tinha disponibilizado para trabalho voluntário e acabei por fazer visitas no hospital a pessoas que não conhecia. Duas delas nem se aperceberam que ali estava alguém, que lhes aconchegou a roupa, falou com elas e lhes fez companhia.
O que mais me custou, o que me fez peso, um peso do tamanho do mundo, foi os olhares dos familiares e amigos dos outros doentes, os que tinham família e amigos que os foram visitar: olhavam-me como se eu fosse marciana e olhavam as pessoas a quem eu fazia companhia como se… é difícil explicar e posso estar enganada, mas olhavam-nas como se tivessem peste, como se não ter alguém que as visite de mote próprio fosse uma coisa terrível, uma doença contagiosa mais contagiosa que qualquer doença catalogada nos canhenhos médicos.
Confesso que não foi fácil. Não foi fácil sentir a solidão ali tão sólida, no corpo fraco e quebradiço de velhas mulheres, transformadas em fantasmas vivos daquilo que foram.
Uma delas sorria não sei a quem. Eu não sei, mas tenho a certeza que ela dirigia o sorriso de forma directa, a alguém que amava e que, provavelmente, esperava encontrar. Não sei, mas sei que ela sabe e isso chega-me.
Hoje recebi uma retribuição.
Não sei porquê perde-se informação importante que cai na caixa de spam. Foi o caso de uma mensagem de Natal muito especial: era dirigida a mim, a mim mesma, com explicação da razão de alguém desconhecido me enviar uma mensagem de Natal.
Adorei, pois claro!
Menciona esta pessoa que na sequência da leitura de Presépios para todos os gostos lhe ocorreu escrever-me, ou seja, não foi uma mensagem automática; não o fez porque, não sabendo como ocupar o tempo, resolveu gastá-lo assim; não o fez porque se sentiu obrigado; não o fez porque calhou; não o fez porque toda a gente faz.
Fê-lo porque quis, porque sentiu vontade de, apesar de não me conhecer, me desejar Boas Festas.
Isto não é magnífico? Uma mensagem genuína de estranho para desconhecido, sem dívidas nem deveres! Não, não é uma maçada receber mensagens de Natal de quem não se conhece, é um privilégio se elas nos são dirigidas com todas as letras!
É uma surpresa, das boas, com a qual não contamos, é um presente. De Natal ou de outra qualquer altura, mas é um presente.
Lembremo-nos que o passado já não existe e quando existia, era presente; que o futuro ainda está para vir e quando isso acontecer será presente, ou seja o presente é aquilo que realmente temos, é uma dádiva e por isso sinónimo de prenda, de oferta, de oferenda.
E acontecendo recebermos mensagens assim são diamantes puros feitos de alegria, são rubis com emoções, são esmeraldas cor-de-rosa, a cor dos sonhos. Obrigada. Escreva sempre. 

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