Já ouvi dizer que
ser-se chic é ser um aristocrata da aparência. Há quem esteja chic de vez em
quando – eu, raramente, mas já aconteceu – e há quem seja chic, de maneira
inata. A minha prima Natércia é, definitivamente chic, mesmo que esteja de
ressaca, com enormes olheiras e com o cabelo todo revolto. Nunca a vi assim mas
acredito piamente que mesmo nessas condições ela mantenha um ar elegante, um
porte distinto e um estar refinado.
Ora chic é uma
palavra estrangeira que aportuguesada dá, obviamente, Chico! Provas disso são várias.
Comecemos por um dos
mais famosos Chicos portugueses, o Chico do Cachené, que não só usa o dito
cachené, um chapéu às três pancadas como remata com calções à marialva. Não será
isto chic? E como não havia ele de por o bairro em alvoroço?
Outro Chico bem
conhecido, o Chico Esperto, é ainda mais português que o anterior e não há alma
lusa que não partilhe um pouco desta chiqueza. Adoro pensar num Chico Esperto
de meia branca, anel no mindinho, crucifixo estampado no peito e amor de mãe
expresso a azul num braço.
Outra prova
irrefutável encontra-se no filme a Aldeia da Roupa Branca. Os aldeãos vibram
com a chegada de um conhecido que vem da glamorosa cidade. E como se chama o
filho da terra que vem visitá-los, bem vestido e garboso? Chico, pois claro! Gritam
em uníssono Chegou o Chico, chegou o
Chico!, que não podia ter outro nome, evidentemente. Qualquer outra das
personagens não era digna de chegar de parte alguma: Jacinto, Luís, Zé ou Simão?
Nenhum tem aquele dobrar de língua das duas consoantes que abrem o célebre nome,
Jacinto é nome de aldeão, Luís é suave a mais da conta, esbate-se na boca, Zé é
muito curto e Simão rima com cão!
Como se isto não
bastasse, veja-se o caso de Chica da Silva: escrava alforriada e senhora da
sociedade de Diamantina, com influência e poder. As perucas e roupas europeias,
os modos, as casas, enfim tudo, eram de uma chiqueza que não poderiam pertencer
a uma Maria qualquer e não é por acaso que se chamava Chica!
Mas as provas não
ficam por aqui. Chico era o nome de uma moeda, de ouro, pois claro, no tempo
dos cruzados. Alguém se lembraria de fazer uma moeda Manel ou Jaquim? Ah pois é,
mas havia uma Chico!
E quem não se
lembra do Chico Fininho? O Chico não caminhava, repare-se, gingava! E lá por se
meter nas retretes não perde fineza, lá está, pois para além de ser fininho, é
Chico e ser-se Chico é ser-se refinado.
E que dizer da
lenda de Chico Rei? Rei! Nem Conde nem Marquês, Rei!
E como de pequenino se torce o pepino, onde é que as pessoas de bem compram os produtos para os seus bebés, onde? Na Chicco! Os dois cês não são por acaso, destinam-se a ensinar a criançada a dizer as sílabas de forma separada, a marcá-las bem. Quando crescem largam as fraldas e deixam cair um cê.
Conclusão, digam
lá o que disserem ser-se Chico é a essência e a nobreza do chic!
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