A minha tia R.
tinha um filho que desde cedo quis ser médico. E foi, escolheu a ortopedia como
osso do ofício, para além de ser adepto do fê cê pê dos quintos costados e
filiado no pê cê pê com todos os ossos.
As minhas férias
no Norte marcaram-me essencialmente por causa dele, uma das pessoas mais incríveis
que já conheci, sabendo de tudo o que há no mundo, grande viajante – não turista,
viajante mesmo – dono de um humor único e de uma enorme boa disposição, maior
que ele, e se era grande com os seus cento e não sei quantos quilos e um bom metro e
noventa de altura.
Numa ocasião o
T., já casado, com filhos, com consultório e a dar consultas no hospital,
apanhou anginas. Os meus tios tinham-me levado a jantar em casa dele e a tia R.
assim que o viu disse-lhe que estava doente, apalpou-lhe a garganta, diagnosticou
uma enorme camada de papeira e mandou-o para a cama, com toda a experiência e
conhecimento que detêm as mães donas de casa, como ela.
O T. rindo-se
disse-lhe que não sabia que a mãe era médica, que agradecia a consulta, mas já
estava medicado e não havia problema.
O jantar decorreu
entre mil conversas, quem melhor do que ele para fazer de uma fatia de pão com
manteiga um opíparo jantar onde se engoliam as palavras e se saboreavam as histórias
que tinha sempre para contar. De vez em quando e a propósito de nada a mãe
lembrava-o que estava com papeira e ele retorquía sempre calmo, que eram
anginas.
Ao fim da noite,
fomo-nos embora e ela ainda lhe gritou lá de fora que se metesse na cama para
curar a papeira.
Quis o azar que o
T. morresse cedo de mais para nós que aqui estamos, mas isto é só um pormenor
porque força daquela não morre nunca dentro do nosso peito.
A minha mãe anda
numa de tia R. e discorda da dieta que a nutricionista me recomendou: pão? Onde
é que já se viu?
Explico-lhe –
pela enésima vez – que como mil vezes ao dia e que o pão é o ingrediente
principal logo de manhã para dar saciedade e que volto a comê-lo a meio da
tarde. Ela não concorda e apesar de eu ter muitos quilos a menos, ainda podia
ter mais, segundo ela, se me deixasse de gulodices.
Pergunto-lhe,
como o T., se ela é nutricionista e diz-me, com falsa calma, que não, eu bem
sei que não, mas mesmo os médicos e nutricionistas não sabem tudo, como eu também
sei e se não sei devia saber! Sim mãe…
A senhora minha mãe,
que é a elegância – e a vaidade… - em forma de gente, pesava 89 quilos quando
tinha a bonita idade de 11 anos… Fazendo jus ao provérbio era considerada a
rapariga mais bonita da aldeia e qualquer um - o meu pai, amigos ou amigas de infância
e adolescência são todos unânimes - reage quando brincamos e dizemos que ela era a
única rapariga da aldeia… Não, não,
era mesmo linda, dizem em coro.
Era muito
estouvada também e pensamos que era a dose de loucura que lhe dava o brilho que
todos confundiam com beleza, mas não se insiste. Um dia achou que era gorda – a sério, mãe? – e fez uma dieta que a
enfiou num vestido de noiva cuja cintura se agarra com as mãos, e lindo de
morrer, diga-se de passagem.
Nunca mais foi
gorda e vive infeliz e de mal com os quilos a mais das filhas, principalmente
com os meus que eram muitos. Agora anda satisfeita mas quer mais e mais
depressa e bem a vi conter-se quando provei os sonhos e as azevias e por isso me
receita que não coma pão.
Minto-lhe e digo
que já não como pão? Imponho-lhe a vontade da nutricionista? Sigo o seu
conselho e retiro o pão?
Não quero fazer
nada irreflectidamente e o melhor é pensar com calma nesse assunto, por exemplo,
enquanto como uma açorda.
Eu optava por seguir a nutricionista. Não digo que a sua mãe não terá razão, seguindo os seus conselhos, a "areia às ondas" até era capaz de emagrecer mais depressa. Mas aí é que estaria o problema, pois eram maior as hipóteses de sofrer uma recaída. Já ouviu falar do efeito iô-iô? Uma dieta que não prescinde de doces e de uma satisfação, de vez em quando, tem mais probabilidades de sucesso.
ResponderEliminarAs mães são mães, não há dúvida. Mas nunca se esqueça de que as mães tendem a ser exigentes demais com as filhas (e complacentes demais com os filhos).
Cara Cristina, é claro que tem razão e não me passa pela cabeça seguir os conselhos maternos nesta questão. A minha querida mãe terá que esperar :)
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