terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Derby


Os meus conhecimentos de futebol resumem-se a saber que uma mão cheia de gente anda a correr atrás de uma bola para tentar marcar golo. Equipas, conheço-as de nome, pois é impossível não conhecer os três grandes, e não, não me refiro, a Pessoa, Eça ou Camilo, uma vez que os noticiários abrem com notícias da bola, as manchetes dos jornais mostram as caras de jogadores e treinadores e os programas de rádio vibram com a dinâmica do esférico.
Ontem fui ver o jogo entre o Sporting e o Benfica com duas amigas, ambas conhecedoras, cada uma a torcer por seu clube e eu ali, de árbitro. O local escolhido foi uma tasca maravilhosa cujos clientes davam para fazer um filme e que será objecto de um texto em altura oportuna.
Com um jarro de vinho e uns petiscos ocupámos a melhor mesa do distinto estabelecimento e posso dizer que adorei o jogo cujo resumo aqui deixo:
A menina sportinguista continha-se para não gritar, a benfiquista estava mais calma; a malta da mesa à minha frente também se dividia por preferências e um dos ocupantes, de brinco na orelha, era bem giraço – gosto de homens com brincos porque me fazem lembrar os piratas…
Marcaram-se alguns golos, mas eu só vi um porque o meu jogo continuava na esplanada da tasca onde uma família… diferente, digamos assim, jantava enquanto o elemento mais novo fazia os trabalhos de casa, ajudada pela mãe.
Perto do intervalo entrou um sem-abrigo, aparentemente já conhecido. Ao balcão alinhavam-se curiosos do jogo e que repartiam essa curiosidade com a sportinguista que estava na minha mesa, levando-me, em conjunto com a benfiquista, a grandes gargalhadas e chamadas de atenção, que passaram despercebidas pela equipa contrária. Não se marcou golo…
Ao intervalo foi tudo fumar lá fora.
A segunda parte decorreu ainda com mais animação, e percebi quem tinha ganho pela cara de tristeza da minha amiga sportinguista: foram os de encarnado!
Com pena de uma alma que estava ao balcão, em pé, com certeza com imensas dores nas pernas, convidei-o a sentar-se diante da minha triste amiga, que ele tentou animar lendo-lhe coisas maravilhosas na palma das mãos. Golo!
Não querendo ser mal-educado acabou por ler também as nossas linhas e disse-me o que eu já sabia: que sou uma pessoa sem interesse e não há nada de relevo na minha vida. A benfiquista teve mais sorte e ele lá vislumbrou duas ou três coisas positivas para lhe dizer, mas nada que se comparasse com a sorte e saúde em barda que previa para a sportinguista, ou seja, uma grande jogada, cheia de compaixão e boa disposição.
O jogo acabou com a benfiquista a entrar em casa, o nosso companheiro de ocasião a debandar e a sportinguista e eu a apanhar um táxi.
Foi um belo jogo!

Sem comentários:

Enviar um comentário