Os meus
conhecimentos de futebol resumem-se a saber que uma mão cheia de gente anda a
correr atrás de uma bola para tentar marcar golo. Equipas, conheço-as de nome,
pois é impossível não conhecer os três grandes, e não, não me refiro, a Pessoa,
Eça ou Camilo, uma vez que os noticiários abrem com notícias da bola, as
manchetes dos jornais mostram as caras de jogadores e treinadores e os
programas de rádio vibram com a dinâmica do esférico.
Ontem fui ver o
jogo entre o Sporting e o Benfica com duas amigas, ambas conhecedoras, cada uma
a torcer por seu clube e eu ali, de árbitro. O local escolhido foi uma tasca
maravilhosa cujos clientes davam para fazer um filme e que será objecto de um
texto em altura oportuna.
Com um jarro de
vinho e uns petiscos ocupámos a melhor mesa do distinto estabelecimento e posso
dizer que adorei o jogo cujo resumo aqui deixo:
A menina
sportinguista continha-se para não gritar, a benfiquista estava mais calma; a
malta da mesa à minha frente também se dividia por preferências e um dos
ocupantes, de brinco na orelha, era bem giraço – gosto de homens com brincos porque
me fazem lembrar os piratas…
Marcaram-se
alguns golos, mas eu só vi um porque o meu jogo continuava na esplanada da tasca
onde uma família… diferente, digamos assim, jantava enquanto o elemento mais
novo fazia os trabalhos de casa, ajudada pela mãe.
Perto do
intervalo entrou um sem-abrigo, aparentemente já conhecido. Ao balcão
alinhavam-se curiosos do jogo e que repartiam essa curiosidade com a
sportinguista que estava na minha mesa, levando-me, em conjunto com a
benfiquista, a grandes gargalhadas e chamadas de atenção, que passaram
despercebidas pela equipa contrária. Não se marcou golo…
Ao intervalo foi
tudo fumar lá fora.
A segunda parte
decorreu ainda com mais animação, e percebi quem tinha ganho pela cara de
tristeza da minha amiga sportinguista: foram os de encarnado!
Com pena de uma alma
que estava ao balcão, em pé, com certeza com imensas dores nas pernas,
convidei-o a sentar-se diante da minha triste amiga, que ele tentou animar
lendo-lhe coisas maravilhosas na palma das mãos. Golo!
Não querendo ser mal-educado
acabou por ler também as nossas linhas e disse-me o que eu já sabia: que sou
uma pessoa sem interesse e não há nada de relevo na minha vida. A benfiquista
teve mais sorte e ele lá vislumbrou duas ou três coisas positivas para lhe
dizer, mas nada que se comparasse com a sorte e saúde em barda que previa para
a sportinguista, ou seja, uma grande jogada, cheia de compaixão e boa disposição.
O jogo acabou com
a benfiquista a entrar em casa, o nosso companheiro de ocasião a debandar e a sportinguista
e eu a apanhar um táxi.
Foi um belo jogo!
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