O anticiclone dos Açores não influencia as ondas das piscinas de Castanheira
de Pêra mas precisava de fazer desaparecer as piscinas de ondas de Santarém.
O Complexo em Castanheira – Praia das Rocas - é maravilhoso: a
envolvência natural, o rio que dá suporte ao lago onde navegam canoas e gaivotas
em forma de cisnes gigantes, a ilha com palmeiras no meio da piscina, as casas
para alugar com vista para a água e sem ferir o todo, a enorme quantidade de
nadadores salvadores que se alinham com um pé quase dentro de água quando as
ondas começam a subir (de hora a hora), o espaço enormíssimo, o preço
(maravilhoso), as casas de banho impecáveis, o restaurante inacreditável (menus
com hambúrgueres, batatas e sopa!), a possibilidade de se andar nos ditos
cisnes e canoas e fazer rapel e saltos de elásticos e usar os insufláveis e experimentar
uma prancha de surf, à maneira dos touros mecânicos, tudo por cinco euros e
passível de repetir as vezes que se queira, as aulas de ginástica onde se dança
com espaço sem incomodar o vizinho do lado.
A piscina das ondas propriamente dita (tudo é ligado, mas os espaços
estão bem concebidos e individualizados com características próprias) é enorme
e termina num areal onde as ondas
morrem felizes.
Ali cabem todos: os mais corajosos bem lá ao fundo onde as ondas se
transformam em vagalhões, os destemidos como eu que ficam a meio, e as crianças
pequenas e todos os que não se sentem muito confortáveis podem ficar-se pelo
local onde as ondas lhes batem suavemente nas pernas.
Como se tudo isto não fosse suficiente ainda há uma parte do complexo em
anfiteatro que, estando virado para a água, mas permite fazerem-se
espectáculos, no caso de magia, nos dois dias que lá estivemos.
Dormimos num dos veleiros que estão ancorados no lago para imensa
alegria dos meus sobrinhos e foram duas noites para não esquecer: o pôr-do-sol
com as hélices dos moinhos de vento ao longe, uma brisa frágil mas agradável, o
barulhos das cordas e dos metais dos barcos, a água, o descobrir os segredos do
barco, os jogos de cartas, as conversas, os planos, o balançar que nos
adormeceu. Numa palavra: perfeito! Tudo por 90 € cada noite, estando as
entradas no complexo de piscinas incluído.
Depois desta experiência, e passada ainda mais uma semana no Gerês,
ouvimos falar de uma piscina de ondas em Santarém. Bora lá! A surpresa negativa
foi enorme: é um cinco estrelas comparado com uma pensãozita…
A fila para entrar dava volta ao edifício. Compradas as entradas faz-se
um percurso com passagem obrigatória pelos balneários que servem a piscina
interior e onde todo o chão está encharcado, escorregadio e perigoso. Ninguém usa
os balneários, logo o dito percurso faz-se calçado, deixando naquele mar com um
centímetro de altura toda a porcaria possível e imaginária.
No complexo exterior cada piscina é isolada das outras: ondas, piscina
livre, à falta de termo melhor, que liga a um jacuzzi, escorregas que terminam
num tanque e piscina para crianças, a que foi dado o nome de chapinheiro, nome
que diz tudo…
A piscina das ondas é uma banheira comparada com a de Castanheira e a
piscina livre é um tanque grande onde só se pode estar porque não há espaço
para nadar, mergulhar, nada.
A água transparente e as ondas que pareciam enormes bocados de gelatina
verde onde mergulhámos, não tinham qualquer parentesco com a água esbranquiçada
que agora se oferecia aos nossos olhos.
As pessoas ficam num relvado molhado que deixa as toalhas cheias de
marcas de lama, distante de todas as piscinas, ao contrário de Castanheira onde
as pessoas se alinham no redondel da própria piscina, sempre à beira da água.
Se quase se podia comer no chão das casas de banho em Castanheira, em
Santarém davam vótimos: os lavatórios entupidos, as sanitas entupidas e cheias
de papel e, pior que tudo, fezes no chão, chão esse encharcado e cuja água,
seja através dos pés das pessoas, seja por ser em demasia, está em comunicação
directa com as piscinas…
E foi assim que na primeira visita à casa de banho, vislumbrando tal
panorama, agarrámos na tralha e fomos embora, não sem antes pedir o livro de
reclamações.
O responsável que nos deu o livro não sabia ao certo a lotação, que não
estava afixada em lado algum, o que é obrigatório. Segundo o computador, o número
de pessoas que estava naquele momento na piscina, era quase o da suposta
lotação, sendo que já tinha saído imensa gente.
Alegaram que não é fácil limpar casas de banho com tantas pessoas, o que
se não fosse ridículo daria vontade de rir. Quando falámos em perigo para a
saúde pública parecia que nos estávamos a referir a satélites de um planeta
noutra galáxia.
Os preços são mais elevados em Santarém do que na Praia das Rocas, mas
não é isso que nos faz não querer ouvir falar de um local e desejar regressar a
outro, é que o muito mau é para esquecer e o muito bom faz-nos sonhar e queremos sempre voltar onde fomos felizes.
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