A cega entra no Metro com um
cão. O cão é afagado, mimado, elogiado, tentam até falar com ele.
Perante tanta mercê um
passageiro comenta que não se devem fazer festas a um cão-guia. A envolvência
reage de sobrolho franzido e lança inocentes porquês com reticências antes da
interrogação. A cega diz baixinho que os cães estão a trabalhar e não devem ser
desviados da sua missão. Fala devagar e de forma informativa. Percebe-se que os
amantes de cães não gostam. Rosnam baixinho ladrares imperceptíveis na forma
mas claros no tom. Ela também o sente e diz:
- É curioso que se dê sempre
mais atenção ao cão que ao cego. Já vim sozinha várias vezes e nem sempre me
encaminham para a porta, mas se vier com ele é diferente. É como se fosse ele a
pessoa e eu o animal.
O homem que tinha sugerido a
contenção de mimos ao cão continuou o racíocinio da mulher:
- É verdade minha senhora… as
pessoas nem se cumprimentam, mas baixam-se e gastam o tempo que for necessário
a fazes festinhas a um cão.
A mulher esboça um sorriso e
diz:
- A mim até fingem que não me
vêem… e a cega sou eu.
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