terça-feira, 4 de setembro de 2012

As cinquenta parvoíces de E.L. James, supostamente protagonizadas pelo Grey


É verdade, li isto nas férias. Não, ninguém mo ofereceu, nem mo emprestaram, fui eu que o comprei e tenho chorado o dinheiro desde então.
No primeiro dia de férias cumprem-se duas tradições: comprar um livro (mesmo que tenha 100 em lista de espera) e um chapéu. O chapéu é lindo, foi eficaz e eficiente e ombreou com a tatuagem nos olhares que me dirigiram. Bem, olharam mais para a tatuagem, pois quatro balas na coxa não passam despercebidas e levantam muitas sobrancelhas.
As minhas balas e a sua localização carregam mais erotismo que todas as páginas de As cinquenta sombras de Grey. A rechonchuda El James – o nome fica melhor assim, dando-lhe ar de argumentista de novelas mexicanas – tem uma poderosa máquina atrás de si (não se vê porque ela tapa-a…) para que as aventuras de Christian e Anastasia se vendam mais que água de coco no deserto.
É uma revista cor-de-rosa em formato livro com supostos segredos e/ou sombras de alguém que gosta de controlar e dominar, adepto de bondage e que dá azo a fantasias sexuais com chicotes, algemas e afins: ele é riquíssimo, lindo, maravilhoso mas sádico, ela é virgem e tonta. Ele usa calças de flanela (aqui um opíparo elogio à tradução!), e nem mesmo muito excitado deixa cair a linguagem mencionando-se sempre seios. Aqui surgiu-me a dúvida: seriam os perinasais ou os renais?
O rapaz propõe-lhe fazer um contrato escrito com tudo o que quer e não quer fazer, onde o fisting não é traduzido, e ainda bem pela simples razão que podia ser passado para português como… flanela, por exemplo!
Os diálogos são boçais, não há construção de personagens – Grey agiu sempre de determinada maneira a vida toda e, sem razão, muda radicalmente, o que só acontece na cabeça de certas mulheres, as mesmas que devoram literatura rosa e acham que um dia vão casar com um princípe encantado, mas acham mesmo, e mais tarde ou mais cedo, também elas vão aparecer nas fotografias do jet set.
Depois, de repente, a virgenzinha tem uma birra e acaba o livro.
Ouvi comparar El James com Michel Houellebecq, mas também já ouvi comparar vinho com zurrapa. Concluindo, ouve-se de tudo, mas a verdade é que as praias estavam cheias de Greys e Anastasias, que é como quem diz, de muita curiosidade. E a fome mata-se de qualquer forma. 

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