segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Vai um cafézinho?

Na senda da minha decisão de deixar de pagar exageros a garganeiros que se querem aproveitar do nosso vício pelo café, às prestações trouxe a máquina, açúcar, copos (de plástico… desculpem lá…), um recipiente para guardar estas bugigangas todas e não dar ao gabinete de trabalho o ar de bar, e hoje decidi-me a ir comprar o café.
Pesquisei na internet a loja mais próxima e desloquei-me lá durante a hora do almoço.
Entrei também fugindo ao frio e nas minhas passadas (chamavam-me cem à hora no liceu…) já ia quase a atravessar a parede do prédio quando percebi que o faz favor, olhe, por favor, era para mim. Voltei atrás e enfrentei uma funcionária que estava a cinco metros da porta junto a um mini balcão que não tinha tido direito a qualquer atenção minha por não lhe ter visto cápsulas de café. Porém, tinha que lá parar, numa espécie de portagem, onde me perguntaram o que desejava, diga-se de passagem, com firmeza e sem simpatia, como se me estivessem a fazer um favor por me deixar entrar.
- Venho comprar café… posso entrar?
A minha ironia não surtiu qualquer efeito e a menina quis saber se eu tinha o meu cartão. Que não, não tinha. Mas não tem porque se esqueceu, ou é a primeira vez e ainda não tem, quis ela saber. Não estou muito habituada a que estranhos me perguntem assim, por dá cá aquela palha, sobre a minha primeira vez e disse que não era para mim. Assim sendo a menina recolheu uma das senhas (em cartão plastificado, bom material, caro) que supostamente era para fazer o cartão e apenas me deu uma para entrar na fila das aquisições.
Faltavam meia dúzia de pessoas. Avassalada com tanta cápsula, de tanta cor e sabor, agarrei uma coisa – não sei que nome lhe hei-de dar – em vidro, como se fosse um catálogo, com nomes e preços. Mais uns minutos e acendeu-se em todos os televisores que povoam as paredes um C 31, o meu número. Pedi Roma, descafeinado e outro com sabor a baunilha. Estendi o multibanco e a menina perguntou-me o número. Voltei a dizer que não tinha, que a compra não era para mim.
- Então faculte-me o número de telefone do dono da máquina, por favor.
Como? Pensei eu.
- Para quê?
- Para associarmos o pedido a uma pessoa e sabermos o que consome.
- Isso não é ilegal? Se eu não lhe der o número não posso levar o café?
A repetição da ironia voltou a não ter qualquer efeito e antes que lhe pudesse dizer o meu signo a menina, qual soldado, brindou-me com a seguinte pergunta:
- Está a dizer-me que não me vai dar o número?
Correndo o risco de aparecer alguém para me torturar, partirem-me um braço, aplicarem-me um golpe de karaté ou porem-me na rua, respondi:
- Estou a fazer o pagamento e que eu saiba a mais não sou obrigada.
Sem me olhar agarrou no cartão, o pagamento foi feito, o saco com os tubos de café foi-me entregue e eu fui-me embora.
Decididamente tanto salamaleque não é para mim e lembrei-me de Maria Antonieta que ontem tinha estado a rever. As cenas das refeições sempre me impressionaram imenso e, tal como os pressupostos que fazem com que se comprem tantas revistas ditas cor-de-rosa são a frustração de não se pertencer àquele mundo, também aqui registei um atendimento e acolhimento que se quer bom e de qualidade mas, bastam dois dedos de testa para se perceber, acaba por ser ridículo e extravagante.
Acredito que existam pessoas que se sentem bem naquele teatro e que adorariam que lhes dessem o café à boca e, assim, continuarão a existir lojas deste calibre e gabarito.

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