Há quatro anos comprei dois pares de chinelos de enfiar no dedo no mercado: uns pretos para mim e outros azuis escuros para o meu filho. Três euros o par, cinco euros dois pares. O delicado número 45 que ele calçava, o facto de os levar para os treinos e usá-los nos banhos diários, deve ter ajudado a que se tenham partido no ano seguinte. Mas o meu par durou, durou e dura.
Usados diariamente em casa o ano inteiro e em todo o lado assim que o sol se deixa de vergonhas, já fizeram muitos, muitos quilómetros e têm uma sola que parece uma fina panqueca. Há umas semanas encontrei uns bocadinhos de borracha preta na sala e demorei a perceber de onde tinham vindo. Quando percebi o que era, lavei-os e deixei-os secar, mas depois, a vontade de os usar foi mais forte: a minha tara por botas, sapatos e tudo o que seja de calçar, teve aqui um ponto muito alto. Estes chinelos conhecem o meu pé como algum outro calçado, seguram-me com calças e saias, na praia e no sofá; são os únicos que têm o privilégio de poderem estar nos pés e em cima do sofá. Calço-os e sinto-me vestida. Imunes ao suor ou à sujidade da sola dos pés. Já adormeci com eles, viajei por muitos sítios, escorreguei em momentos de chuva inesperada, corri e transportei-os na mão quando caminhava na água ou na areia.
Hoje vi que têm um corte por baixo. É definitivo. Lembrei-me do dia que descobri que um dos meus cães estava doente. Era definitivo e foi rápido. Sei que os vou calçar amanhã e que os vou matar definitivamente, talvez até durem mais dois ou três dias, mas vão ficar até ao último sopro, e depois, depois vão para a galeria dos inesquecíveis, dos verdadeiros companheiros.
Todos conhecemos pessoas que se dizem amigas e que não fazem metade do que um par de chinelos de enfiar no dedo faz por nós.
Posso ter outro par de chinelos, terei com certeza, mas não há substituições.
Usados diariamente em casa o ano inteiro e em todo o lado assim que o sol se deixa de vergonhas, já fizeram muitos, muitos quilómetros e têm uma sola que parece uma fina panqueca. Há umas semanas encontrei uns bocadinhos de borracha preta na sala e demorei a perceber de onde tinham vindo. Quando percebi o que era, lavei-os e deixei-os secar, mas depois, a vontade de os usar foi mais forte: a minha tara por botas, sapatos e tudo o que seja de calçar, teve aqui um ponto muito alto. Estes chinelos conhecem o meu pé como algum outro calçado, seguram-me com calças e saias, na praia e no sofá; são os únicos que têm o privilégio de poderem estar nos pés e em cima do sofá. Calço-os e sinto-me vestida. Imunes ao suor ou à sujidade da sola dos pés. Já adormeci com eles, viajei por muitos sítios, escorreguei em momentos de chuva inesperada, corri e transportei-os na mão quando caminhava na água ou na areia.
Hoje vi que têm um corte por baixo. É definitivo. Lembrei-me do dia que descobri que um dos meus cães estava doente. Era definitivo e foi rápido. Sei que os vou calçar amanhã e que os vou matar definitivamente, talvez até durem mais dois ou três dias, mas vão ficar até ao último sopro, e depois, depois vão para a galeria dos inesquecíveis, dos verdadeiros companheiros.
Todos conhecemos pessoas que se dizem amigas e que não fazem metade do que um par de chinelos de enfiar no dedo faz por nós.
Posso ter outro par de chinelos, terei com certeza, mas não há substituições.
duas bibliotecarias a falarem sobre chinelos ;)
ResponderEliminar:) Onde posso ler sobre o assunto?
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarhttp://oblogazulturquesa.blogspot.com/2011/07/histoire-de-pieds-31.html
Vou ver!! Obrigada!
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