Andrzej Stasiuk é polaco e autor dum livro que se chama Fado. Título impecável, não pela vaidade do uso duma palavra na língua de Camões, mas porque é o certo, o único.
Em viagem (‘To trave lis to live. Or in any case to live doubly, triply, multiple times’, p. 34) pelas Polónias, Hungrias, Roménias, Albânias e Eslóváquias, leva-nos sempre sentados na cadeira da ironia colocada ao lado da janela dos pormenores que, como os gomos da laranja, fazem o todo, aquele todo de que os turistas nem sequer ouviram ouvir. Stasiuk viaja, não confundir.
Os plurais dos nomes dos países designam a multiplicidade de realidades simultâneas que nos são postas diante dos olhos, não às postas mas em vislumbres abrangentes, com linguagem simples e perceptível para além do óbvio. As Europas Centrais das quais sabemos que ficam no centro e decoramos as capitais, mas sobre as quais desconhecemos tudo, uma pena.
O livro não é meu, foi-me emprestado. Mas a leitura não podia ser mais minha, tal e qual como num processo de viagem por um país que não sendo nosso, passa a ficar em nós porque passámos por ele.
Apetece-me traduzi-lo para que o possa ler de enfiada em português, depois de feita a leitura em inglês (vagarosa) e na impossibilidade de o fazer em polaco, opção sempre ideal, a da leitura na língua original. Lembro um momento passado há pouco tempo por entre fumo de cigarros à porta do aeroporto da Portela quando me esclareciam auditivamente sobre frases aliteradas em norueguês (seria? Ou sueco…?) e cuja melodia se perdia com a tradução. Foi nesse dia que mo emprestaram.
V. já to posso devolver, obrigada.
Edição da Dalkey Archive Press, tradução de Bill Johnston, de 2009
quinta-feira, 14 de julho de 2011
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