quarta-feira, 6 de julho de 2011

O desejo e os empregados dos cafés

Apetecer e desejar são duas coisas muito diferentes. O desejo está na esfera, desde logo, das grávidas, dos amantes e dos sonhos. O apetecer é da esfera dos caprichos, dos simples apetites, que podem mudar de azimute dum momento para outro.
E é assim que acho sempre estranha e desenquadrada a pergunta vinda dos empregados de café sobre se eu desejo um copo de água.
A bem da verdade, nunca tive assim tanta, tanta sede que d e s e j a s s e um copo de água. Eu quero água, não a desejo, como desejo, por exemplo, um mergulho, e exemplifica-se com o dito por meter água também, mas normalmente não se mergulha em cafés e não sou parente da Sininho.
O desejo de agradar, lá está!, é uma ilusão e mais uma vez confundem-se as coisas pois é um falso desejo: o empregado apenas quer mostrar que os nossos supostos desejos são ordens para ele, que se está nas tintas para o facto de querermos um copo de água ou desejarmos lambuzarmo-nos com um gelado. Ele quer é vender e contribui para isso colocando os nossos arbítrios ao nível do desejo, não percebendo o burlesco da sua pergunta que, dependendo também do empregado em si, pode ir do cómico ao ridículo.
Pobres dos que têm desejos como torradas aparadas ou cafés em chávenas largas que são simples preferências. Tristes os que desejam adoçante ao invés de açúcar ou levar metade do pão com manteiga embrulhado para comerem a meio da manhã que são meros contentos.
Que é feito do querer? Do preferir? Do apetecer?

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