Ao fundo da rua está o palácio que me dá telhado como local de trabalho. Antes de lá chegar está o quiosque onde me abasteço diariamente. Cumprimento o dono, o Sr. A. que me vai estendendo as coisas sem que eu precise de as nomear, pela força do hábito. Enquanto isso, uma senhora pergunta:
- Qual é o melhor jornal para encontrar anúncios de casa de férias?
- Tem o Ocasião e o Correio da Manhã.
- Ai sim? Então empreste-mos… é só para tirar os anúncios de casas de férias, não os vou ler.
Não me contive e dei uma gargalhada olhando directamente para a mulher que me sorriu perguntando do que me ria.
- Da sua lata! O uso do jornal pressupõe a sua compra!
O Sr. A. olhava-me com os olhos abertos como se fossem bandeiras a pedir ajuda, o que me fez continuar até que a mulher lá se decidiu:
- Bem, se tenho que pagar, então só levo um… pode ser o Ocasião.
Esperei que ela pagasse, despedi-me do homem e vim-me embora.
Hoje de manhã, repete-se a rotina e o dono do quiosque comenta o sucedido, dizendo que há pessoas que são capazes de tudo. Enquanto falávamos, pára um carro ao lado do quiosque e estaciona batendo estrondosamente no carro do Sr. A.
O condutor sai do carro, o Sr. A esbraceja indignado e tenta endireitar a placa da matrícula, dizendo ao outro:
- Então você não viu o carro?
- Vi, mas isto são coisas que acontecem! Nunca bateu quando está a estacionar?
Desta vez não consegui rir-me com a nova manifestação, não de lata, mas de verdadeira latosa do homem e disse ao Sr. A. que ia chamar a polícia. O homem acalmou e baixou o tom de voz: que não era preciso, que ele tinha muita pressa, que desculpasse, que de facto são coisas que acontecem, que…
- Pois são coisas que acontecem, são… mas a quem não presta atenção ao que está a fazer!
A exaltação do Sr. A ia crescendo, mas esmoreceu com o que pareceu um pedido de desculpa sincero do outro.
Espero que amanhã não lhe mandem o quiosque ao chão!
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário