Ao telefone com um amigo conto-lhe que
passei grande parte de Agosto com canadianas, sem poder andar. Ele comenta que,
tendo passado uma situação semelhante – muitíssimo mais grave em termos do acidente
– aproveitou para ler tudo o que podia durante o período em que esteve na cama.
Fiquei envergonhada pois não fiz o
mesmo. Casei-me com a preguiça de tal
forma que passei horas a olhar para a televisão, mais a mudar de canal que a
ver fosse o que fosse, e a afastar pensamentos.
A páginas tantas ocorreu-me uma palavra
que fez todo o sentido para descrever o meu estado interior: luto.
Senti-me de luto, triste e desamparada, com
umas férias que eram tudo menos férias, com o rasto de uma amizade que se
desvaneceu, sem dinheiro e a esforçar-me para sorrir a todos os que me
visitaram ou me falaram por telefone.
Com as despesas hospitalares,
medicamentos e a perspectiva de um corte substancial no ordenado de Setembro,
apenas fui à praia na última semana de Agosto, tendo elegido Caxias, por ser a
mais próxima de casa, para onde fui do nascer ao pôr-do-sol.
Apropriadamente ou não, li Que importa a fúria do mar, de Ana
Margarida de Carvalho e reli A pianista
de Elfriede Jelinek, duas gotas de água no oceano.
No último dia de férias, já em período
de descontos, pois era Domingo, decido ficar em casa a arrumar roupa e a fazer
limpezas. O meu filho levanta-se cedo e opõe-se determinantemente a estes
planos, argumentando que o último dia de férias não pode ser passado em casa;
eu que me vestisse, pois iríamos juntos à praia e ele oferecia o almoço, num
sítio que eu ia adorar.
Assim, conduzimos até à Ericeira onde
estava um mar apiscinado, ao contrário do habitual com ondas, conversámos sobre
mil assuntos e comemos uma sopa de peixe quase à hora do lanche, da qual ele engoliu
três pratos e que prometi tentar reproduzir em casa.
O meu luto coloriu-se nesse dia, o
melhor de todo o mês, Agosto redimiu-se.