Face à minha incapacidade financeira de acompanhar uns supostos amigos em saídas e jantares, uma suposta amiga disse-me um dia que era uma sorte eu ter muita roupa para passar a ferro, pois assim tinha com que me entreter.
Em tempos anteriores, quando o ordenado dava para comprar livros, mantive uma relação de amizade, que acreditei ser verdadeira mas se veio a verificar ser antecedida de suposta, e com diferente cavalheira da que me aconselhava a fazer a ménage.
Nunca dava um passo sem que gerisse a conta bancária para que ela me pudesse acompanhar. Conhecendo-lhe eu a situação precária, antes a afastava das lidas rotineiras e proporcionava-lhe saídas, almoços e jantares, tudo o que me parecesse desangustiá-la. Fomos de férias, passeámos nos algarves, nos alentejos, nos nortes e nos centros, cresceu a minha família com aquela presença, que vivia nos meus planos de estar, de ir ou ficar, de rir e de chorar, largava eu tudo para a atender nos mais pequenos desejos, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza, parecendo casamento feliz.
Até que a minha situação financeira entrou em colapso. Primeiro não percebi os motivos do afastamento, que me causaram lágrimas de dor, até que alguém me chamou a atenção para o cruzamento da informação, para o conjunto, matematicamente falando.
Não era a primeira vez que alguém se afastava de mim, mas como cometi o erro de acreditar que a amizade era verdadeira, doeu-me como se me arrancassem um bocado quando conclui que dois e dois são quatro e que o nada dos noves fora, tinha motivado a minha dor.
Aos poucos e arrastando-me lá me consegui equilibrar, até porque existia um farol na minha vida, exemplo para todas as virtudes exemplificáveis, obra de arte reconhecida, pedra dura lisa ou afiada, conforme a necessidade e o desafio.
Este farol estava para os meus amigos como os filhos estão para as coisas que gostamos. Quando alguém pergunta o que mais gostamos no mundo, acho ridículo que se responda os filhos! O meu nem entra nesta contabilidade, está tão acima de tudo que não tem comparação, é outro universo, incomparável. Da mesma forma, um farol não se compara com qualquer casa, leia-se, amizade.
É altivo, ilumina sempre, é forte, vem do antes e permanece, sabe tudo, viu tudo, é determinado contra as tempestades e, como o de Alexandria, é eterno.
Pensava eu.
Podiam passar-se semanas sem que visse a luz ou ouvisse a buzina do farol, mas acabava sempre por dar sinal de vida, por entre o nevoeiro, aproximava-se em passos seguros e firmes, como quem garante segurança; não havia distância nem assunto afastadores, não havia espuma de mal-entendidos, não havia vagas que partissem o cordame que nos ligava. A mesma frase de início de conversa fazia-me sempre rir... velhice e cataratas mencionadas por alguém que eu sentia imortal.
Assim se passaram anos, como se fossem vidas. Até um dia em que o farol se apagou, deixou de me iluminar, sem perceber que quem nos leva a caminhar na escuridão perpetra um acto de crueldade.
E assim me considero vacinada contra a amizade, palavra que posso expressar por escrito ou verbalmente sozinha mas que, interiormente, será sempre adjectivada com suposta.
É claro que respeito a decisão, se não o fizesse estaria a corromper o meu próprio sentimento de amizade. Para mim o verbo mais associado à amizade é 'estar', estar presente, estar disponível, estar com alguém, lado a lado ou à distância, estar no pensamento, acima de tudo. Resta um vazio frio quando não precisam que estejamos. Alguma vez teriam precisado? Não.
Em tempos anteriores, quando o ordenado dava para comprar livros, mantive uma relação de amizade, que acreditei ser verdadeira mas se veio a verificar ser antecedida de suposta, e com diferente cavalheira da que me aconselhava a fazer a ménage.
Nunca dava um passo sem que gerisse a conta bancária para que ela me pudesse acompanhar. Conhecendo-lhe eu a situação precária, antes a afastava das lidas rotineiras e proporcionava-lhe saídas, almoços e jantares, tudo o que me parecesse desangustiá-la. Fomos de férias, passeámos nos algarves, nos alentejos, nos nortes e nos centros, cresceu a minha família com aquela presença, que vivia nos meus planos de estar, de ir ou ficar, de rir e de chorar, largava eu tudo para a atender nos mais pequenos desejos, na saúde e na doença, na pobreza e na riqueza, parecendo casamento feliz.
Até que a minha situação financeira entrou em colapso. Primeiro não percebi os motivos do afastamento, que me causaram lágrimas de dor, até que alguém me chamou a atenção para o cruzamento da informação, para o conjunto, matematicamente falando.
Não era a primeira vez que alguém se afastava de mim, mas como cometi o erro de acreditar que a amizade era verdadeira, doeu-me como se me arrancassem um bocado quando conclui que dois e dois são quatro e que o nada dos noves fora, tinha motivado a minha dor.
Aos poucos e arrastando-me lá me consegui equilibrar, até porque existia um farol na minha vida, exemplo para todas as virtudes exemplificáveis, obra de arte reconhecida, pedra dura lisa ou afiada, conforme a necessidade e o desafio.
Este farol estava para os meus amigos como os filhos estão para as coisas que gostamos. Quando alguém pergunta o que mais gostamos no mundo, acho ridículo que se responda os filhos! O meu nem entra nesta contabilidade, está tão acima de tudo que não tem comparação, é outro universo, incomparável. Da mesma forma, um farol não se compara com qualquer casa, leia-se, amizade.
É altivo, ilumina sempre, é forte, vem do antes e permanece, sabe tudo, viu tudo, é determinado contra as tempestades e, como o de Alexandria, é eterno.
Pensava eu.
Podiam passar-se semanas sem que visse a luz ou ouvisse a buzina do farol, mas acabava sempre por dar sinal de vida, por entre o nevoeiro, aproximava-se em passos seguros e firmes, como quem garante segurança; não havia distância nem assunto afastadores, não havia espuma de mal-entendidos, não havia vagas que partissem o cordame que nos ligava. A mesma frase de início de conversa fazia-me sempre rir... velhice e cataratas mencionadas por alguém que eu sentia imortal.
Assim se passaram anos, como se fossem vidas. Até um dia em que o farol se apagou, deixou de me iluminar, sem perceber que quem nos leva a caminhar na escuridão perpetra um acto de crueldade.
E assim me considero vacinada contra a amizade, palavra que posso expressar por escrito ou verbalmente sozinha mas que, interiormente, será sempre adjectivada com suposta.
É claro que respeito a decisão, se não o fizesse estaria a corromper o meu próprio sentimento de amizade. Para mim o verbo mais associado à amizade é 'estar', estar presente, estar disponível, estar com alguém, lado a lado ou à distância, estar no pensamento, acima de tudo. Resta um vazio frio quando não precisam que estejamos. Alguma vez teriam precisado? Não.