... já só os vejo, não os processo. A bem da verdade vejo-os porque o meu sobrinho adora a série e quis ver tudo de fio a pavio.
Eu, qual lontra preguiçosa, olho para a televisão sem ver nada. Quero manter-me forte como uma rocha, mas sinto-me um penhasco que se desfaz com a tareia das ondas. Afasto os pensamentos que me lembram que não mereço estar aqui deitada enquanto Agosto se esvai rindo à gargalhada, mas começo a falhar.
Fui ao médico pedir alta e foi negada. Expliquei que não me posso dar ao luxo de receber metade do ordenado no fim do mês e comprometi-me a continuar deitada usando as férias, sem mencionar as loucuras que tenho feito ao sentar-me no sofá e omitindo algumas idas à casa de banho. Responderam-me que a responsabilidade é do doente mas também do médico que lhe dá baixa; se eu quisesse ir trabalhar, que fosse, se quisesse interromper o período de baixa que o médico tinha prescrito que o fizesse, mas...
Depois das despesas médicas, com um carro avariado, a perspectiva de apenas uma das peças chegar aos duzentos euros e com uma perna às costas - no pior dos sentidos - não sobra nem para meter uma moeda e fazer aparecer um sorriso.
Assim, mesmo sem ser vidente sei que as férias vão ser as melhores de sempre: é Verão, estou fechada em casa e sem um chavo. Se me conseguisse por em pé, saltava de alegria...