terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A mendigar no Centro de Saúde

Depois de bater com o nariz na porta do Centro de Saúde da minha área de residência, procuro o alternativo. Estão em obras, diz um papel manhoso como a saúde dos portugueses, colado ao vidro da porta.
O outro Centro de Saúde tem uma maquineta de senhas à entrada, de onde retiro um papel. Faltam quatro pessoas, não é mau. Porém, as três estrelas do balcão de atendimento comentam o Natal, os acidentes, a chuva e não chamam ninguém. Na sala ninguém parece aborrecido ou espantado. Mas que raio...
Vou ao balcão perguntar se há algum problema. Não, não há qualquer problema, o que acontece é que os médicos que eventualmente têm vaga ainda não chegaram e são eles que dizem se atendem ou não atendem os doentes. Abano a cabeça como num arrepio e explico que não quero consulta para o dia e sim marcar para mais tarde. Dá no mesmo, diz a senhora com simpatia genuína, como eu não tenho médico de família tenho que esperar e pedir, mesmo que para mais tarde. Então e posso marcar por email? Pode sim senhora, ou por telefone, como queira.
Agradeço e saio, atrasada para o trabalho. Ao fim do dia envio o mail, nome, morada, número de utente, pedido de consulta. A resposta não se fez esperar: caixa do correio cheia...
Reenviei a mensagem no dia seguinte, a resposta repetiu-se, escusado será dizer que o telefone está sempre interrompido e lá terei que ir sentar-me na sala de espera, de mão estendida, rezando pela caridade de um qualquer médico.
Viva o sistema de saúde, viva!

Os cavalos também se abatem

Dizem que gostava muito de mim. 
Dizem que eu gostava muito dele. 
Dizem que eu lhe chamava um nome que não sabem reproduzir, como sempre se diz que as crianças pequenas chamam de forma diferente, como se inventassem novas palavras quando apenas tentam reproduzir o que ouvem e sai de forma distinta. 
Dizem que eu corria para ele e ele tinha imensa paciência comigo.
Dizem que está no hospital em coma depois de ter tido um acidente onde o carro embateu num cavalo e noutro carro. 
O cavalo, como o de Tróia, sem saber instalou a morte, a dor, o espanto, a solidão, o nada no interior daquelas famílias.
Mesmo sem me lembrar dele confesso uma tristeza por saber desta tragédia, maior que outras tragédias, porque a proximidade é factor de dor, como todos sabemos, mesmo que não nos lembremos. 

Janela virada para a eternidade

Dois artigos, ou serão três? para revistas, mais uma comunicação numa conferência, mais a organização de outra, mais indiferença de algumas pessoas que trabalham comigo, mais incompetência de outras, tudo somado perfaz muitas horas de trabalho.
Falo de mim, falo mas não me queixo, ando satisfeita e com vontade de trabalhar ainda mais.
Ganho o mesmo, financeiramente falando, recebo menos, muito menos, e não percebo como se gastaram 57 milhões de euros a mais no Natal do que no ano passado, mas isso é outra conversa.
Uma parte do trabalho que tenho em mãos implica pedir ajuda de minuto a minuto ao tio Google Maps, verificar moradas, visualizar prédios e de repente, olha, deixa cá ver o meu próprio prédio.
Lá está, num dia soalheiro, nem eu teria feito melhor e, surpresa das surpresas, o meu vizinho velhote, que morreu durante o Verão, está imortalizado espreitando à sua janela, como sempre. Espero que ninguém se lembre de actualizar aquilo e tirar novas imagens porque aquele senhor faz parte daquela rua, pertence-lhe. A nós pertence-nos a memória e cabe-nos sorrir ao vê-lo, ao reencontrá-lo nem que seja de forma virtual. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Avali(a)ção de professores

Terá sido de propósito?
Terá sido uma brincadeira acerca da avaliação que, deixando a desejar como (quase) todos afirmam, até o Público lhe deixou cair uma letra?
Terá a ervinha logo abaixo tido influência e alguém fumou o A?
Será um incentivo à poupança?
Será uma tentativa de legitimação das novas formas de escrita?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ser ou não ser

Para fazer um orçamento uso o site da TAP: quanto custa uma deslocação a...? Preencho os campos, ida e volta, cidade de partida, cidade de regresso e carrego no enter.
Enquanto uns minúsculos e invisíveis seres procuram a informação para ma plasmaram diante dos olhos, aparece uma mensagem:
Todas as tarifas incluem jornais e revistas gratuitos*

O * está um pouco mais abaixo e diz:
Este serviço está apenas disponível em alguns voos e tarifas TAP.

Pergunto, Dona TAP, em que ficamos?

Na voz do Zambujo é uma delícia

Eu já não sei
Se fiz bem ou se fiz mal
Em pôr um ponto final
Na minha paixão ardente
Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente

Quando te vejo e em sonhos sigo os teus passos
Sinto o desejo de me lançar nos teus braços
Tenho vontade de te dizer frente a frente
Quanta saudade há do teu amor ausente
Num louco anseio, lembrando o que já chorei
Se te amo ou se te odeio
Eu já não sei

Eu já não sei
Sorrir como então sorria
Quando em lindos sonhos via
A tua adorada imagem
Eu já não sei
Se deva ou não deva querer-te
Pois quero às vezes esquecer-te
Quero, mas não tenho coragem

Até sempre Lawrence O'Toole

A maior benesse vinda do trabalho do meu pai eram os bilhetes de cinema de graça. Qual ordenado, qual quê? Os bilhetes, os bilhetes, esses sim, eram a melhor coisinha que ele trazia para casa, directamente para as minhas mãos. Os bilhetes em si eram reclamados na bilheteira mediante a apresentação de um talão rectangular, branco, com o nome do cinema, não do filme, inscrito a letras grandes: Condes, S. Jorge, Tivoli, Eden, Europa, Monumental, Alvalade, entre outros.
Sendo os bilhetes gratuitos e não havendo muitos pedidos, coisa que me causava grande estupefacção, mas satisfação em simultâneo, pois assim ninguém me faria concorrência, chegava a ver três filmes no mesmo dia, o que em plenos anos 70 era uma proeza.
Com uma linha de metro com meia dúzia de estações, sabia-lhe os horários - ou as expectativas deles - melhor que os maquinistas e corria de sala em sala, arfando até me sentar no escurinho do cinema. Fiz muitos amigos, pois claro, mas neste dia fui com os meus pais.
Comecei com a minha mãe numa sessão no S. Jorge a ver uma coisa leve, Os Canhões de Navarone. Ela ia como uma super-modelo, de lenço na cabeça, muito em moda na altura, óculos de sol estilo Madalena Iglésias e botas altas.
Quando o filme acabou o meu pai esperava-nos, saído do trabalho, e fomos em direcção ao Monumental, ver outro filme. Ela já não ia bem-disposta, que canseira, que exagero, dois filmes, mas onde é que isto já se viu, e eu, coitado do pai, tu viste mas ele não viu e este deve ser tão giro, eu nem sonhava o que ia ver, mas não fazia mal algum, era preciso ir.
Enquanto a minha mãe esperançava num filme romântico, ai estes canhões, tanta guerra, só guerra, quase não entram mulheres e uma das poucas logo tinha que fazer de muda, eu mentia garantindo que este agora era diferente, não tinha nada a ver. E não teve, pelo menos para mim, que da acção dos Canhões de Navarone lembro duas ou três coisas e de Lawrence da Arábia, lembro tudo, ou não o tivesse visto vezes sem conta pois desde aquele dia que exerce em mim um fascínio inexplicável.
O meu pai quis sair a meio, o lenço que ela levava na cabeça passou para o pescoço e daí para a mala, da mala para as mãos e para a testa, para limpar o suor que a fartura do filme lhe causava. E eu parecia uma boneca, sem ouvir nem falar, imóvel, a amar para sempre aquele homem, aquelas paisagens, aquele actor, aqueles países, aquela dinâmica e, porque não dizê-lo, aquelas roupas e até aqueles camelos.
Depois daquela tarde li, vi outros filmes, viajei pelos caminhos que ele percorreu, ouvi injuriá-lo, ouvi adorações em seu nome, arrebanhei tudo, como os fãs costumam fazer, sem acreditar nuns ou dando razão a outros, só ouvindo, que os mitos têm sempre dois lados.
As pessoas, agora que têm televisão e internet acreditam em tudo; a última dizia que morreu Peter O'Toole, como se alguém assim pudesse morrer...
A palavra Imortal tem poucas utilizações, e nesta pessoa é uma delas, nesta pessoa que para sempre será duas pessoas, que o mesmo é dizer, um mito.

Volta Bobby, estás perdoado

Tendo decidido saltar por cima deste Natal, aborreço-me ainda mais que o costume com a publicidade que passa na rádio. Em cada dez anúncios, onze mencionam o Natal, e mais umas promoções e mais uma oportunidade única, até parece que o mundo vai acabar logo a seguir ao Natal.
Com tanto que gosto de ouvir rádio, fui mudando de estação na esperança de haver uma que não mencionasse o Natal, mas qual quê?, ele são festas, espectáculos, acções de solidariedade, pedido de voluntários, é Natal nos canais de música clássica, de jazz, infantis, é Natal em... é lá... que é isto?
Intrigo-me pelo facto de há cinco minutos não ouvir dizer Natal nem bolas nem estrelas nem bolo-rei, nem passagem do ano e apuro o ouvido. Apuro o ouvido e o olhar como se um auxiliasse o outro diante do velho rádio leitor de cassetes, tão quieto mas tão capaz de fazer tanto barulho, os rádios são engraçados por esta dupla essência, pelo que têm de escondido, como vários outros equipamentos.
Bom, acho que instintivamente o meu corpo sabe que não vale a pena apurar o tacto ou o cheiro, que daqui também não sairá grande ajuda, aumentam os minutos sem que se ouça a palavra Natal, aliás, agora que estou bem atenta percebo que não dizem Natal ou qualquer outra palavra que eu perceba... estou no paraíso, estou a ouvir uma rádio indiana!
Lembro-me imediatamente do único filme indiano que vi na minha vida, algures à volta do 25 de Abril, directamente de uma Bollywood ainda em ascensão mas já prometedora e ao qual Quem quer ser bilionário? não deve nada, felizmente.
Senti uma saudade enorme dessa lembrança esbatida, de um tempo em que era tão feliz que até podia entrar no final de um filme indiano, talvez de Bobby, o tal que vi. Acabo a rir à gargalhada, sozinha, depois de um pesquisa no Youtube onde descubro as canções do filme assim como os óculos, simplesmente magníficos, de gigantes, do protagonista.
O programa de rádio, Swagatam, Som do Oriente, passa  na Rádio Orbital (em 101, 9 FM, grande Lisboa) aos Domingos das 10 às 14h, e para mim é uma boa alternativa sob vários aspectos: é uma forma diferente de fazer rádio, se ouvirmos muito e com atenção podemos até tentar perceber o que dizem, ficamos a saber novidades sobre as comunidades indianas em Portugal e, claro, muita música e bandas sonoras, verdadeiros convites para visitarmos lojas indianas aqui e ali, leitura de cartas de espectadores, envio de parabéns e todo um mundo de contacto directo com os ouvintes, assente nas melodias que vibram com o toque próprio da música indiana e, como se tudo isto não fosse suficiente, sem Natal.
Namasté!

Folhas caídas (não essas, outras...)

O Outono, qual cigarra preguiçosa, apercebeu-se de repente que estava de malas aviadas e que dia 21 de Dezembro estava a chegar. O trabalho não estava feito, nem tão pouco mais ou menos, e de repente bufou com força para cima de todas as árvores que se viram intimadas a deixar cair as folhas, todas ao mesmo tempo, em todas as terras. Resultado, as ruas, as estradas, os passeios, as sarjetas, os tejadilhos dos carros e, não é que eu tenha visto, mas a fé diz-me que sim, até em certos telhados há folhas castanhas espalhadas, sem ordem nem lei, perigo maior para os transeuntes e espectáculo garantido para mirones em locais estratégicos onde, de vez em quando, pumba, lá vai estoiro em forma de queda, como se o universo tivesse decidido que todos os que por ali passassem seriam acrobatas.
Consequentemente, nos últimos dias tenho andado mais devagar, bem mais devagar e embora veja as folhas a serem apanhadas, no dia seguinte são ainda mais, o que me leva a garantir que, se em algum local não fossem varridas, deixaríamos de ver certas árvores, afogadas em si próprias. Apesar de mórbida, a imagem apresenta-se-me linda e até romântica. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O'lhó passarinho

Amigo de um amigo de um amigo, filho de pais filhos da terra natal dos meus pais, pelo apelido será primo ou parente caçula de um antigo namorado meu, agora é fotógrafo e somos amigos no Facebook, essa instituição.
Não sendo captador de momentos da vida das flores nem de gatos fofos, mas antes do espaço aberto da paisagem alentejana, gosto de ver as fotos que vai publicando e, ocasionalmente, até as comento, por me agradarem aqueles castanhos e os amarelos, os encarniçados a sobreelevarem-se sobre um pontual verde no estio.
Tem mérito o rapaz. Mérito como fotógrafo, que como pessoa não lho conheço, ou melhor, ontem fiquei com uma ideia, uma ideia fotográfica, daquelas que vão permanecer.
Aparentemente havia um concurso de fotografia a decorrer e era suposto que nós, os amigos, amigalhaços do peito, votássemos para eleger o vencedor. A propaganda eleitoral é muito original: passa por uma mensagem, pública ou particular, a pedir isso mesmo, Votem em mim! Por seu lado, o boletim de voto é um clique num endereço que o candidato nos envia, muito fácil.
Ontem, o meu querido amigo publicou uma mensagem a agradecer a todos quantos votaram nele. Teria sido um gesto bonito se ele não tivesse acrescentado meia dúzia de palmadas e um responso para todos aqueles que não votaram! Li duas vezes, que o meu raciocínio nem sempre é o melhor e achei que não tinha percebido, que tinha lido à pressa, o problema seria meu com certeza.
Desentorpeci os dedos e deixei uma mensagem de tristeza e de reclamação:  então e se não gostarmos das tuas fotografias? então e se quisermos votar noutras? então e se simplesmente não quisermos votar?
O rapaz não se fez rogado e usou o seu mais forte argumento, custa alguma coisa dar um clique? acrescentando Grandes amigos, o que vi logo que não era para mim pois, como ficou expresso ontem, só tenho 1,62m.
Mandei-lhe uma mensagem privada do tamanho dos dois Alentejos e das Beiras a explicar que lhe ficava muito mal aquela atitude, que não se podia votar em alguém só porque era nosso conhecido ou só porque nos pedia; retorque ele que é o que todos fazem, que se limitou a agir como todos agem, que quantos mais amigos se tem, mais hipóteses se tem de ganhar e, repetiu, custa alguma coisa dar um clique?
A mim custava-me manter a conversa e, depois de um Fica bem, desliguei o computador.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Dos concursos e dos castigos

Luís Almeida ficou conhecido por ter participado, e ganho, em inúmeros concursos de televisão. Eu participei em dois, ganhei um, mas perdi a conta aos concursos que ganhei fora do ecrã. O primeiro foi à Disney, a Paris, acabada de estrear, presente da Cerelac ou da Nestum, não me lembro, mas que no fundo veio da Nestlé, e o último foi um fim-de-semana no Hotel Palácio de Seteais, esse deslumbre, que ofereci à minha irmã.
Pelo meio ficam viagens e livros, sendo que nunca concorri a nada que não incluísse viagens, ou dinheiro para as fazer. A norma, na quase totalidade dos casos, passa por escrever textos ou frases a propósito de qualquer coisa, logo, não há aqui um factor sorte puro, daí talvez venha a explicação para o facto de nunca ter ganho o euromilhões...
Entre outras, ganhei viagens aos Açores, China, Itália, Espanha, Marrocos, destacado-se meia dúzia de visitas ao prémio inicial, a Disney, muito na moda durante alguns anos.
Agora muitos concursos passam por telefonar e, no telefonema certo, ganha-se qualquer coisa. Ora, como sorte, sorte, não tenho, embora os meus amigos e conhecidos passem a vida a mandar-me informação de concursos para que eu concorra - e os leve! - não tenho conseguido ganhar nada.
Que é feito dos textos que se escreviam e que se publicitavam depois para que todos os participantes pudessem ver quem e como se tinha ganho? Dão muito trabalho e não fazem entrar os milhares de eurozitos que se capitalizam com o negócio dos telefonemas.
Assim, inibida que está a minha participação em encontros profissionais devido à crise, e que em tempos idos me levaram da Grécia à Rússia, da Croácia ao Brasil, de Inglaterra à Alemanha, entre outros pontos, não tendo finanças para ir de férias além da Costa da Caparica, não tendo sorte ao jogo, nem aos amores, diga-se de passagem, resta-me ficar a apreciar este frio, comparando-o com o do Ártico, onde já estive, mas ansiando pelo calor do Sahara, que também já senti, logo, estou como o outro, recordar é viver...
Sugere-me este tema depois de ver o último número da revista Volta ao Mundo, da qual sou fã e que apresenta vários concursos, todos via telefonema. De quem não sou fã é da pessoa que vem na capa este mês, Isabel Stilwell. Não a conheço o suficiente para desgostar, mas garantidamente não sou fã, e o facto de vir na capa de uma revista que idolatro, desgosta-me, sim.
Este torcer o nariz a Isabel Stilwell vem de trás, de uma edição da revista Pais & Filhos, na qual era (é?) colaboradora, na altura em que eu lia a revista em questão, e a propósito de um texto que assinou sobre crianças que, se não me falha a memória, estavam no limite entre o irrequieto e o mal educado. A sugestão para que as aulas decorressem calmas sem a presença dos mais endiabrados, era dar-lhes um castigo. E foi precisamente isso que me levou a escrever-lhe insurgindo-me contra o castigo: mandá-los para a Biblioteca!
Bom, em primeiro lugar, desta vez a escrita não me deu prémio algum, pois não obtive resposta. Em segundo lugar, e consubstanciando o meu argumento para descredibilizar o castigo, senti-me horrorizada por pensar que alguém que estava ligada a uma revista daquela índole podia sequer equacionar a possibilidade de se ver uma Biblioteca como uma espécie de inferno...
A ligação entre Isabel Stilwell e as (minhas adoradas) bibliotecas como câmaras de tortura ficou-me sempre na memória e não a consigo desligar, assim como não consigo deixar de ficar triste de a ver na capa da Volta ao Mundo. Simplesmente, não pegam, mas esta é só a minha opinião, a opinião de alguém que, embora tenha ganho muitos concursos, ninguém conhece.
Ave, senhor engenheiro Luís Almeida e senhora doutora Isabel Stilwell!

Uma questão de altura

Eu não percebo como é que só tenho 1,62m... Dizem que deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer e, mais uma vez, comecei a trabalhar ainda não eram seis da manhã. De saúde também não ando lá muito famosa, a menopausa anda a trabalhar ainda mais que eu e levanta-se ainda mais cedo!
Vá lá uma pessoa acreditar no que se diz...
Porém e ainda assim e contudo cantam cá mais uns centímetros que na altura da minha querida irmã que faz tudo para ser mais alta que eu. São dois ou três, mas são os suficientes para eu ser mais alta. Recorrentemente vem ela a querer meças, chega-te aqui, para mim, cheguem-se aqui, para o público do momento, ora digam lá quem é mais alta! A resposta tem sido coerente, com os dedos a apontarem, cansados, na mesma direcção, para mim.
Ontem foi dia de repetir a cena e o motivo encontrado para eu parecer mais alta foram os saltos dos meus ténis... rasos, tal como os dela. Eu bem coloquei a cabeça de modo a parecer mais baixa, encolhi os ombros, mas o resultado final é sempre o mesmo: ela tem esperança que eu mirre de umas medições para outras e eu, que gosto tanto dela, ainda lhe vou fazer a vontade. 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Banda sonora

Aqui há uns anos a minha irmã fazia-me um enorme favor. Não era casada, não tinha três filhos, não vivia longe de mim e dava-me um mimo único: sabendo que eu gostava que a vida fosse como certos filmes, andava dois passos atrás de mim a trautear uma canção, qual banda sonora do meu quotidiano.
As pessoas andavam mais devagar, e chegavam a parar, para ver uma à frente com ar de felicidade e um sorriso cinematográfico e outra um pouco atrás a lálálázar qualquer coisa.
Nós não nos ralávamos e eu chegava a dar uns passos de dança ao som daquela música única.
Agora que ando sempre de auscultadores metidos nos ouvidos dou por mim aos saltinhos que a música exige, a subir degraus de dois em dois ou com passinhos de gueixa, conforme a lista musical indica.
A diversidade é muito grande, os géneros são os que que quiser, mas tenho saudades da banda sonora única no mundo, só minha, só para mim. Tenho saudades do passado, tenho saudades da minha irmã, como irmã. Eu sei, hoje estou egoísta.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A minha Alexandretta

Quando Indiana Jones contou ao pai que tinha descoberto o túmulo de Sir Richard e a inscrição no escudo – Alexandretta – o pai exultou e a felicidade salpicou-me, como se eu também fizesse parte da descoberta.
Passados muitos anos, vivi este momento na primeira pessoa ao encontrar, não os restos mortais de um cruzado, mas um assento de óbito.
Os olhos saltaram-me das órbitas como se fosse uma personagem animada, reli e voltei a reler o manuscrito… não, não podia ser. Mas era.
Agarrei no telefone, com a pressa enganei-me no número, enquanto imprimia o papel que, fugindo a concentração, saiu em letra liliputiana.
A voz atendeu-me a muitos quilómetros de distância, bem-disposta e alegre, de repente a querer deter a brincadeira por perceber a ansiedade na minha própria voz.
Pedi que se sentasse e me ouvisse, afinal não é todos os dias que se descobre uma informação que os especialistas na matéria procuram há mais de duzentos anos.
Está a brincar comigo? Adivinhei a cara séria de quem não admite jocosidades com coisas destas. Mas eu não brincava e tinha provas, que enviei naquele instante por e-mail.
Do outro lado choraram quando receberam a mensagem. Um choro de alegria, de satisfação, de alívio pelo fim de uma jornada. Eu também chorei de alegria, por ter participado, por me terem dado essa honra.
Não fazendo investigação por profissão, dou apoio a inúmeros investigadores e auxilio-os naquilo que posso. Rejubilo com as suas conquistas, critico textos, sugiro alterações, do português, já se vê, que da matéria são os conhecimentos insuficientes. 
Porém, a proximidade com algumas pessoas fez crescer uma empatia e um interesse maiores que os do costume. Esse interesse, feito curiosidade, levou-me a percorrer caminhos cuja linha do horizonte se transformou na mais bela das paisagens, e desta vez não foi uma praia, e sim um assento de óbito. 
Oh, que morte abençoada... 

O mundo aos nossos pés

Excepção feita às lojas chinesas e ao mercado do Algueirão, perdi a conta aos meses em que não entrava numa loja. Ontem fui àquela catedral que dá pelo nome de Zilian e irremediavelmente lembrei-me de Orson Wells e Citizen Kane que nos remete para... o mundo a seus pés.
É assim a Zilian, um paraíso que não vende sapatos mas antes beleza e conforto, onde fui com duas colegas, uma delas decidida a comprar pela primeira vez na vida uns sapatos de salto, de saltinho, vá, que não comprou. Pés exigentes, aqueles!
Os meus não são exigentes, são mesmo defeituosos desde que parti uns dedos, os ossos calcificaram e não dobram, proibindo-me o uso de saltos, com enormíssima pena minha.
Verdade seja dita que, fossem eles perfeitos e pudesse eu andar em agulhas mais afiadas que as da Cigala, lamberia as montras da Zilian com os olhos sim, mas acabava por ir picar o ponto à cigana do Algueirão que tem os últimos modelos a um ou cinco euros; quando me pede dez por par eu reclamo e ela diz-me naquele sotaque arrastado, Linda, olha que san chaneli... ao que a minha mãe, rindo-se, responde que chinelos já nós temos muitos...

Sway

Letra de Norman Gimbel, música de quem balançar mais…

When marimba rhythms start to play
Dance with me, make me sway
Like a lazy ocean hugs the shore
Hold me close, sway me more

Like a flower bending in the breeze
Bend with me, sway with ease
When we dance you have a way with me
Stay with me, sway with me

Other dancers may be on the floor
Dear, but my eyes will see only you
Only you have that magic technique
When we sway I go weak

I can hear the sounds of violins
Long before it begins
Make me thrill as only you know how
Sway me smooth, sway me now

Other dancers may be on the floor
Dear, but my eyes will see only you
Only you have that magic technique
When we sway I go weak

I can hear the sounds of violins
Long before it begins
Make me thrill as only you know how
Sway me smooth, sway me now

When marimba rhythms start to play
Dance with me, make me sway
Like a lazy ocean hugs the shore
Hold me close, sway me more

Like a flower bending in the breeze
Bend with me, sway with ease
When we dance you have a way with me
Stay with me, sway with me

When marimbas start to play
Hold me close, make me sway
Like a lazy ocean hugs the shore
Hold me close, sway me more

Like a flower bending in the breeze
Bend with me, sway with ease
When we dance you have a way with me
Stay with me, sway with me

Coisas bizarras...

A páginas 48 do jornal Público de ontem encontrava-se um anúncio da APSA, Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger. Sendo eu familiar de um aspie, nome carinhoso para estas pessoas especiais, interesso-me por tudo o que envolva a doença e, lendo o anúncio, fico a saber que o mesmo serve para informar que a campanha de recolha de fundos "reuniu um total de € 599,00 que será aplicado no projecto Casa Grande, um Centro de Atividades Ocupacionais e Residência Autónoma para pessoas com Síndrome de Asperger".
Mais informa a APSA que "A campanha, desenvolvida através de chamada telefónica, decorreu de 7 de Janeiro a 7 de Agosto de 2013". Calculo que parte do valor da chamada revertesse para a APSA, calculo, não tenho a certeza.
Estas Associações são de valor elevado, garantindo apoio a pessoas que são confrontadas com situações que desconhecem, angústias e choques, tristezas e solidão. Constituem um cenário de conforto e resposta que deve ser acarinhado, e muitas vezes não existe outra porta onde se bata. Contribuo mensalmente com um pequeno valor, não para esta associação em particular, mas para outra, indico uma outra como beneficiária no IRS e participo em acções de voluntariado, coisas que qualquer pessoa pode fazer, mas não faz. Dá muito trabalho...
Porém, não posso deixar de me espantar com um gasto de 1.550 € (preço de tabela para o dia e a localização em questão no interior do jornal) num anúncio para informar que receberam 599 € numa campanha, informação essa que não consta na página oficial da APSA, nem na página do Facebook, incontornável hoje em dia. Estranho, no mínimo.
Hoje, Dia Internacional do Voluntariado, seria um bom dia para pedir ajuda, dar conta da sua existência, mas nada vi, para além de na página oficial apresentam o 'Plano de Atividades e Orçamento Previsional para 2014' onde calculam gastar em publicidade e propaganda (sic) a específica quantia de 9.594€.
Para mim é confuso e, sinto-me completamente à vontade para brincar sem ofender seja quem for, deve ser efeito de aspie... 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Vida e morte no Facebook

viste FB? vai ver
A mensagem por sms é lida por mim com um sorriso irritado. Estou a meio do dia de trabalho, não ando no Facebook! A curiosidade falou mais alto e aberta a página desfaz-se-me o sorriso: morreu uma pessoa minha conhecida. Muito jovem, trintas e poucos, multiplicam-se os RIP's mas não se menciona a causa da morte.
Trocam-se mensagens, escritas, sublinho, mas não se fala. A páginas tantas os RIP's misturam-se com os LOL's, lembrando momentos da vida da rapariga. É comovente mas bizarro: todo o alvoroço é virtual (embora se anuncie o velório e a hora do funeral, amanhã), é muito estranha esta partilha de saudade, incómoda. As mensagens no mural da moça vão crescendo, página que se manterá, a menos que alguém lhe conheça as passwords, tal como a de um amigo, desaparecido há cerca de dois anos e cuja página no Facebook é uma pedra tumular onde todos deixam o que lhes apetece: flores, bonecos, abraços e beijos, mensagens de saudade.
O Facebook, que alguns usam como diário ao minuto - estou aqui, fui para ali, encontrei fulano, comentei o estado de beltrano, partilhei não sei o quê de sicrano, gosto disto, enfureço-me com aquilo, estou a ouvir esta música ou aquela, entre mil outras possibilidades de interacção - tornou-se também um local de culto dos que já morreram. Entre outras, é muito trabalho para os sociólogos... para mim é uma coisa fria, gelada, como a morte.