A História vive nas ruas e dá a cara nas fachadas dos prédios. Os homens
que transformaram a imaginação em realidade são pais de um trabalho que se
perpetua no tempo, ao ar livre, aguentando intempéries e todas as sortes.
As ruas de Lisboa têm várias cicatrizes NJ, que se manterão até que os
poderes públicos e privados assim o consintam.
Frequentemente, esquecemo-nos que um prédio é uma edição de um só exemplar,
irrepetível, e quando vai abaixo, entulha-se a História, da cidade, da
arquitectura, do arquitecto, a nossa História.
Quem nos legitimou para apagar a História?
Os edifícios são irreproduzíveis e a memória não os consegue plagiar para
que transportemos a riqueza acumulada de geração em geração.
Vivem entre nós pessoas magistrais, como Norte Júnior, temos o prazer de
conviver com o seu trabalho, que faz História, admiramo-lo, aplaudimo-lo e
deixamos que seja demolido!
Os interiores são obras de arte divinas, na medida em que funcionam como um
corpo humano, com órgãos, tecidos, ossos. Os interiores projectados por Norte
Júnior conjugam o calor das madeiras, a
intemporalidade da pedra, a força do ferro, a estrutura do betão, a luz dos
vitrais, a beleza da pintura, o delicado do estuque; têm o toque de Deus, como
dizia van der Rohe, na profusão dos detalhes.
Não interessa, é demolido na mesma!
É o progresso, dizem. Mas o progresso não trouxe conhecimento técnico, e
científico, e histórico, e tecnológico? O progresso não aumentou a visão de
conjunto? E trouxe vontade…?
Insurgimo-nos contra a devastação do património na Síria, face à guerra: de
que nos serve a paz se não existe bom senso?
Se o futuro não contiver as pagadas geodésicas do passado será um espaço
vazio, pobre e infeliz.
Mantenha-se o edifício da Avenida da República, 55 e que não se perca o
Norte!