O Reitor
da Universidade dos Açores está de
parabéns pela medida tomada sobre a proibição do uso do correio electrónico em
determinadas situações na Universidade. Proíba senhor reitor, proíba! É preciso
focarmo-nos e, como diz o povo mas contraria a física, ganhar tempo e não perdê-lo.
Porém, levantam-se-me algumas dúvidas,
desde logo faz falta um esclarecimento sobre se é uma posição a favor da tradição, estilo viva o papel, abaixo o e-mail.
Há que
parabenizar também pelo facto de a Universidade não ter uma página no LinkedIn ou conteúdos no iTunes.
Decisão inteligente e que talvez pudesse ser ainda mais assertiva pois há informações
sobre uma pós-graduação em Análise de Dados e Gestão da Informação nesse antro
que é o Facebook, bem como uma página de um Centro de Empreendedorismo e uma
outra que apela à Aprendizagem ao longo da vida, mas como é para séniores,
devem ter tido em consideração que os velhos têm muito tempo e até deram o
contacto da reitoria. Ainda assim, proíba senhor reitor, proíba!
Na minha modesta opinião, devia a
informação ser um pouco mais precisa: quando
se diz que não se podem – e bem! – divulgar assuntos privados, pergunto:
as férias serão assunto privado ou não? Pode continuar-se a usar aquela fórmula
da mensagem de resposta automática Estou
ausente por férias até dia tal ? Fica a sugestão para uma adenda.
Convenhamos
que é muito aborrecido, por exemplo, receber informação sobre a
recente maternidade ou paternidade dos docentes ou dos funcionários; o
que temos nós a ver com estes assuntos? Só nos desviam das nossas tarefas,
causando perturbações e, lá está, perda de tempo. Proíba senhor reitor, proíba!
Pior ainda,
ouvi dizer que há casos de universidades e empresas várias que chegam a
divulgar informação sobre falecimento de membros da família de colegas! Onde
é que isto já se viu? É uma maçada para os familiares e tem que ser para
nós também ? Então trabalha-se numa universidade ou numa agência funerária?
Proíba senhor reitor, proíba!
Parabéns!
Agora não é ao senhor reitor, é parabéns em geral; porque é que se usa o
e-mail para enviar uma palavrinha de parabéns? Para ficar por escrito que o
parabenizado está a envelhecer? Mais uma triste ideia…
Combinações
de almoços, jantares, festejos vários… então mas o que é isto? Estamos
aqui para conviver? O senhor reitor é que a sabe toda, proíba senhor
reitor, proíba, coloque cada qual no seu canto, aliás, podendo dar uma sugestãozinha,
eu lembraria que há por aí nove ilhas, logo, deve haver muita falta de wireless,
e espalhar essa malandragem podia ser boa ideia, para além de reactivar o hábito
perdido de escrever cartas, aumentando quiçá o quota dos CTT nos Açores.
Se formos
honestos e a bem da verdade isso do espírito de equipa é um mito; então
enquanto eu teclo pode estar outro a teclar comigo? Não! É impossível.
Por outro lado,
os assuntos internos de Departamentos e/ou
Serviços são isso mesmo, internos, primos dos privados, por alma de quem é
que devem andar a circular nos corredores virtuais? Já nem falo da
comunicação social, essa escória que produz escritos… ai, mas deixem-me dizer
que apreciei imenso a utilização da palavra ‘escritos’, lembra-me
a colocação dos papelinhos brancos colados aos vidros para alugar as casas, é tão
típico, tão giro.
Proíba senhor
reitor, proíba. Temos que nos consciencializar que a vida é feita de
compartimentos estanques, viva a arrumação, não se quer misturas de espécie
alguma e, verdade seja dita, até já chega de divulgação livre de conhecimento
crítico. Aliás, quando se diz que uma universidade é o lugar por excelência
para dizer e ouvir a verdade, isto é uma metáfora, nem sei quem a disse, mas
foi alguém que estava a brincar, de certeza. Ou, a ser verdade, e para não
arranjar confusões, deve-se arranjar uma verdade, uma só, que não levante dúvidas!
Não, não, isto não é nenhum ismo, é só uma forma de dar ordem ao universo, de
acabar com o caos.
Agora,
quer os tais escritos da comunicação social, é mesmo gira esta palavrinha, os
assuntos de natureza privada, cujos limites não sabemos bem quais são, é tipo
mar e areia a que as ondas mudam constantemente a fronteira, os assuntos
internos dos departamentos e dos serviços, aquilo que tudo junto é parte da
vida da universidade, vão continuar a circular, isso vão, e fora da cadeia hierárquica estabelecida, cuja estipulação me lembrou o Sr. José de Todos os Nomes de Saramago. A rede de correios
electrónicos pessoais vai ter uma nova vida, e aquela melianagem vai continuar
a comunicar. O que fazer? Eu, assumindo o cargo de reitor, mandava fechar
a internet! Ah, mas isso era já, era ontem! A menos que… a menos
que eu pudesse ter acesso a essa correspondência.
Acho
que o senhor reitor não devia ligar nada a quem anda para aí a dizer que isto é
mal feito, que é censura, etc. Essa gente não está lá para ver como as coisas
se passam, pois não? Então devem calar-se, não é?
Quem
quer promover proximidades que se case, não vá trabalhar para uma universidade.
Quem quer questionar que vá para polícia. Quem quer criticar escolha
a arte, e tanto que haveria a dizer sobre o assunto, a dizer e a proibir! Quem quer fazer parte de um projecto constitua um grupo musical! Quem quer dizer o que lhe apeteça arranje um Speakers Corner!
Uma universidade é outra coisa, é respeito, respeito é silêncio, como o que se guarda nas igrejas e nos cemitérios, como aquele que se impõe a partir de certa hora. Ai, estou a baralhar-me isso é nas prisões.
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