segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eu juro, juro mesmo

Sendo a gasolineira do Jumbo a mais barata em toda a área metropolitana da minha casa, fiz-me à fila. Tempos houve em que não me apanhavam ali, à seca, mas, como dizia Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Como calculava, havia fila, não era grande, mas cada bomba tinha cerca de cinco a seis carros à espera. Rapidamente me apercebi que tinha ficado na bicha dos maricas: ele era levantar de mangas de camisas, ele era casacos pelas costas, ele era óculos no alto da cabeça, ele era cem folhas de papel para evitar o contacto com a mangueira, como se fossem um preservativo, ele era luvas, ele era tudo, mas tudo para atrasar ainda mais a espera. Paciência.
Era de noite, embora fossem umas seis da tarde, quando chegou a minha vez. Senti-me como se me tivesse enganado e tivesse entrado na casa de banho dos homens: calções, casaco de capuz e ténis, meti combustível em três tempos, sem luvas nem pergaminhos, a desafiar com o olhar os condutores dos carros de trás, garantidamente maricas, eles e elas, já se tinha percebido, eu é que me tinha enganado na fila.
A pressa era tanta que só não entrei no carro em andamento porque tenho que lá estar dentro para o pôr a trabalhar. Olhei de esguelha para trás, bomba três, enquanto avançava lentamente para pagar, metendo ao mesmo tempo a mão no saco para tirar a carteira,... a carteira..., a mão não queria encontrava a carteira? Nada disso, a carteira ficara em casa. Com mil milhões de macacos, disse eu de mim para mim.
Chegada a minha vez expliquei que não tinha dinheiro, que me esquecera, que nunca tal me acontecera, que era a primeira vez, que apenas tinha os documentos do carro e o telemóvel, não, não tenho ninguém que me possa trazer o dinheiro, tenho que ser eu a ir buscá-lo. Mostrei os documentos enquanto o carro de trás fez sinal de luzes. De dentro da guarita apareceu um papel onde escreveram tudo e mais um par de botas sobre mim e de trás ouviu-se a buzina e um Então? aborrecido. Assinei o papel e prometi com toda a convicção voltar passados vinte minutos. A cancela levantou-se e eu avancei mas ainda ouvi uma reclamação sobre o tempo que demorei... glup...
Fui a casa, lá estava a carteira na mala que usara no dia anterior, voltei, parei o carro fora das filas, meti-me à frente de um veículo com um sinal de desculpe lá, é um minutinho, paguei, rasgaram o papel com a minha ficha mais completa que qualquer relatório policial, meti-me no carro outra vez e fui embora a jurar nunca mais gozar com os molengões. 

2 comentários:

  1. Celeste Silveira14 novembro, 2013 12:12

    Essas filas de maricas têm acento nos outros Jumbos também. É vê-los tão "bem de vida", e a pôr as luvinhas e a pôr mais um um lencinho de papel, não vão as danadas das luvinhas, ter algum furo invisivel por onde possa passar o vírus da peste negra. Mas a minha experiência diz-me que nesses casos, os homens são bem piores que as mulheres. E sim, também me dão uns grandes nervos.

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