sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Deixem Falar o David Machado

A densidade de Deixem Falar as Pedras não parece provir de um jovem de 33 anos.
Li o livro e vi o filme, satisfiz-me. Não, não me enganei: a apropriação da história faz-se de duas maneiras diferentes, lendo e visualizando, à vez.
Lendo as aventuras e desventuras de Nicolau Manuel, que nos remete para Viagens na Minha Terra, quando não percebemos se afinal sim ou afinal não e não queremos acreditar que tudo foi imaginação, Joaninha incluída.
Por outro lado, vemos o filme de todos os adolescentes que nos rodeiam, com as palavras que usam, as músicas que ouvem, os gestos que repetem, o guarda-roupa que gastam, o afastamento a que os devotamos, os excessos que nos deixam doentes por dentro e por fora, os problemas próprios desta geração, crus e transparentes. Assim. Sem vírgulas nem chamadas de atenção, nem perdões, nem atenções. Assim. Tal como é.
A acção vem de outros tempos e de amanhã também, tudo ao mesmo tempo, no dia de hoje, no agora.
Um dos aspectos mais significativos é a manutenção dos laços entre um avô e um neto e só por isto já valia a pena a leitura. Mas depois há a dor, a pessoal e a histórica, do país; há a escrita fluida e bem encadeada; há as palavras que nos levam como se fossemos pólen e nos deixam poisar nem sempre da forma mais agradável, mas é assim a vida.
Deixem Falar as Pedras tem a força duma pedrada e eu espero que acerte em muita gente.

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