Em tempos que já lá vão tive um chefe que tinha vivido vários anos na Rússia.
Um dia a mulher teve um ataque de vesícula e teve que ser operada de urgência. A intervenção cirúrgica, aparentemente a fazer de olhos fechados, tal era já a facilidade, acabou em complicações que a colocou mais para o lado de lá do que para o lado de cá. Razão: ela estava nas redondezas de Chernobyl quando, em 1986, se deu o acidente nuclear e as consequências ficaram para sempre, dando a cara nas situações e momentos menos esperados.
O chefe, que tinha vivido em aflição à data do acidente, voltou a viver em angústia e sobressalto naqueles dias, com a mulher hospitalizada e sem saber o que podia acontecer.
Para não variar, ao ouvir a palavra Chernobyl, ainda para mais com sotaque russo, eu ficava em transe: era longe, numa Rússia que na altura eu não conhecia mas adivinhava bela, exótica e cheia de surpresas, e equivalia a um pesadelo da humanidade e isso, para mim, era mais que suficiente para fazer vénia.
Este episódio foi o que me colocou mais perto de Chernobyl e, com excepção das notícias que surgem de vez em quando, a actual cidade-fantasma não tem sido alvo do meu interesse, nem se tem cruzado comigo. Até agora.
Há meia dúzia de dias foi-me diagnosticada uma necrose, receitados medicamentos com valores luxuosos, que não são comparticipados e cujo custo total tenho que pagar.
A bula de um dos medicamentos diz que foi desenvolvido ‘a partir da investigação na pele agredida por radiação em tratamentos oncológicos e em lesões e queimaduras de sobreviventes do desastre nuclear de Chernobyl’.
Leio e penso que da desgraça de uns vem o benefício de outros; imagino laboratórios com tubos de ensaio a fumegar, experiências a serem repetidas até à exaustão, cientistas suados e cansados, acordados dias e dias a fio, sem desistirem de encontrar a pedra filosofal. Imagino que para descobrir e produzir uma coisa que minimize os efeitos dum poderio como um acidente nuclear seja precisa quase uma intervenção marciana.
E continuo a ler a bula que informa que a fórmula ‘é baseada na secreção do Cryptomphalus aspersa’. E quem é o Cryptomphalus aspersa, quem é? Um pequeno caracol terrestre…
Ora isto põe-me logo a memória a funcionar e leva-me para anúncios da televisão e para uma banca algures num corredor do centro comercial lá perto de casa, onde se anuncia e vende um produto à base de baba de caracol, que eu sempre achei ser parente da banha da cobra.
Afinal parece que não é assim e que os molengas que se arrastam langanhosamente contribuem para a nossa salvação, amén!
Resta-me um problema para o qual não tenho solução: devo continuar a comer caracóis…?
Um dia a mulher teve um ataque de vesícula e teve que ser operada de urgência. A intervenção cirúrgica, aparentemente a fazer de olhos fechados, tal era já a facilidade, acabou em complicações que a colocou mais para o lado de lá do que para o lado de cá. Razão: ela estava nas redondezas de Chernobyl quando, em 1986, se deu o acidente nuclear e as consequências ficaram para sempre, dando a cara nas situações e momentos menos esperados.
O chefe, que tinha vivido em aflição à data do acidente, voltou a viver em angústia e sobressalto naqueles dias, com a mulher hospitalizada e sem saber o que podia acontecer.
Para não variar, ao ouvir a palavra Chernobyl, ainda para mais com sotaque russo, eu ficava em transe: era longe, numa Rússia que na altura eu não conhecia mas adivinhava bela, exótica e cheia de surpresas, e equivalia a um pesadelo da humanidade e isso, para mim, era mais que suficiente para fazer vénia.
Este episódio foi o que me colocou mais perto de Chernobyl e, com excepção das notícias que surgem de vez em quando, a actual cidade-fantasma não tem sido alvo do meu interesse, nem se tem cruzado comigo. Até agora.
Há meia dúzia de dias foi-me diagnosticada uma necrose, receitados medicamentos com valores luxuosos, que não são comparticipados e cujo custo total tenho que pagar.
A bula de um dos medicamentos diz que foi desenvolvido ‘a partir da investigação na pele agredida por radiação em tratamentos oncológicos e em lesões e queimaduras de sobreviventes do desastre nuclear de Chernobyl’.
Leio e penso que da desgraça de uns vem o benefício de outros; imagino laboratórios com tubos de ensaio a fumegar, experiências a serem repetidas até à exaustão, cientistas suados e cansados, acordados dias e dias a fio, sem desistirem de encontrar a pedra filosofal. Imagino que para descobrir e produzir uma coisa que minimize os efeitos dum poderio como um acidente nuclear seja precisa quase uma intervenção marciana.
E continuo a ler a bula que informa que a fórmula ‘é baseada na secreção do Cryptomphalus aspersa’. E quem é o Cryptomphalus aspersa, quem é? Um pequeno caracol terrestre…
Ora isto põe-me logo a memória a funcionar e leva-me para anúncios da televisão e para uma banca algures num corredor do centro comercial lá perto de casa, onde se anuncia e vende um produto à base de baba de caracol, que eu sempre achei ser parente da banha da cobra.
Afinal parece que não é assim e que os molengas que se arrastam langanhosamente contribuem para a nossa salvação, amén!
Resta-me um problema para o qual não tenho solução: devo continuar a comer caracóis…?
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