terça-feira, 23 de agosto de 2011

O rato

Como o dinheiro abundou nas férias passei parte delas em casa. As limpezas fizeram-me companhia e andei entretida. Não prescindi das caminhadas e um dia exagerei, não nos quinze quilómetros, mas pelo facto de não ter levado meias. Os ténis, garganeiros, deram-me uma dentada no tornozelo, acabei a coxear e com uma roedura. A bolha de água rebentou e aquilo fez uma ligeira ferida da qual nunca mais me lembrei pois passei a andar de sapatilhas de enfiar no dedo.
Andava eu em plena campanha de limpezas, com móveis arredados e paredes brilhantes de detergentes quando dou conta dumas minúsculas manchas no chão, vermelhas, como sangue. Raios partam! Seria um rato? Com tanta movimentação, teria despejado algum espécime e tê-lo-ia ferido, razão pela qual o sacanita andava por ali a procurar esconderijo? Seria um dos espertos, tipo Mickey? Um fofo como o Bernardo ou a Bianca? Meu Deus... e se fosse um Remy que me aparecesse com a família inteira? Eu nem sei fazer ratatouille...
Resolvi fechar as portas todas e começar na cozinha. Teria eu dado cabo de algum cano ou qualquer cosia do género e o rato tinha-se escapulido para dentro de casa?
Como não tenho caçadeira peguei na vassoura e fiquei imediatamente convencida que sim, ele estava na cozinha! A prova disso era o aumento das pequenas pegadas que cresciam em todo o lado.
Bancos em cima da mesa da cozinha, balde do lixo – vazio e lavado - em cima da bancada, frigorífico no meio da cozinha, móvel de madeira a fazer de segunda rotunda e, pela primeira vez, franzi a cara em desgosto pelo tamanho da cozinha, enorme. Preparava-me para desviar as máquinas quando dou conta que ele devia estar a passar-me pelos pés, tal o número de pegadas ensanguentadas que pisava. Mas como era possível? Eu não via nada!
Resolvi sentar-me na bancada, de arma em punho. À espera. Semicerrei os olhos e vi a selva africana… um rio… um delta… um hipopótamo bebia água ao escurecer… aproximaram-se uns leões e umas panteras… as hienas riam a olhar-me e, de repente, percebi porque se riam: com o rabo em cima da bancada, as pernas a baloiçarem e os chinelos pendentes, vi que a ferida causada pelos ténis e pela falta de meias estava a sangrar, escorrendo-me pelo tornozelo abaixo. Saltei da bancada. Dei uns passos e verifiquei que deixava um trilho de pequenas marcas vermelhas no chão.
Que bela ratazana eu me saí!

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